Poucas artistas são capazes de manter a audiência fascinada por todas as diferentes áreas em que atuam. Cher encanta à todos com seu carisma e talento como cantora, apresentadora de TV, e atriz vencedora do Oscar. Mas o verdadeiro legado da artista é seu estilo autêntico, repleto de calças boca de sino, barriga de fora, make de olhos marcante, sombras coloridas, e muito, mas muito paetê em seus famosos figurinos feitos sob medida pelo fashion designer Bob Mackie. Cher revolucionou o mundo da moda e por isso é a It Girl Atemporal dessa semana.
Em uma carreira que já acumula 6 décadas, seria quase impossível abranger todo o fashionismo que Cher (nascida Cherilyn Sarkisian) entregou como presente para o mundo da moda. Com incríveis figurinos usados por suas personagens no cinema (Moonstruck, Mermaids, Witches of Westwick, Mamma Mia, Burlesque, Silkwood, etc), podemos dizer que os mais marcantes foram os vestidos e conjuntos excêntricos e glamurosos, desenhados pelo renomado fashion designer Bob Mackie (sim, o mesmo que criou o vestido icônico que Marylin Monroe usou ao cantar Happy Birthday to You ao presidente da época John F. Kennedy), que Cher exibia em seus tempos como apresentadora de TV. A It Girl foi host de programas de comédia, variedades e música durante toda a década de 70, com programas como The Sonny & Cher Comedy Hour (1971-1974), The Cher Show (1975-1976) e The Sonny & Cher Show (1976-1977). Podemos dizer então que o final da década de 60 e toda a década seguinte foram os anos mais icônicos do estilo pioneiro de Cher, já que foi o período de ascensão da artista. E sua entrada em Hollywood chegou trazendo brilho, moda Flower Child, casacos de pele, delineado marcante, botas de cano alto, vestidos translúcidos, paetês, plumas, coletes de franja, calças boca de sino, pedraria, cowboy hats, blazers, estampas psicodélicas, esmaltes de cores vibrantes, e roupas com elementos nativo–americanos como penas, pele animal, cristais e amuletos místicos. E por esses (muitos) maravilhosos motivos, o It Girl Atemporais de hoje vai focar nesse período fashion de Cher.
Entre os anos de 1964-1975 Cher foi casada com o também músico e apresentador de TV Sonny Bono (1935-1998), com quem ela não só dividia um filho, mas também dividia o palco. O casal apresentou dois programas televisivos de sucesso juntos, e possuíam uma carreira musical como a dupla pop Sonny & Cher, gravando mais de 15 álbuns de estúdio durante esse período (todos com capas icônicas, devemos dizer). É importante ressaltar o relacionamento dos dois porque Cher atingiu sua fama junto com o marido, e sempre que a It Girl queria experimentar com os mais únicos e ousados looks no palco, Sonny abraçava suas ideias e vestia–se de acordo. A dupla serviu muitos looks de casal, perfeitamente combinados em cores, tecidos e ousadia.
Confira algumas das icônicas capas dos álbuns de Sonny & Cher, cheias de ilustrações psicodélicas, cores vibrantes, e incríveis fotografias do casal combinando outfits, Sonny vestindo looks Hippie muito modernos e ousados pra época, e Cher com uma make de dar inveja em qualquer personagem de Euphoria. Como o próprio título do disco de 1973 da dupla diz ” […] Mama Was a Rock’n’Roll Singer and Papa Used to Write All Her Songs“. Um verdadeiro Power Couple.
E como citamos acima, um dos maiores responsáveis pelos figurinos de Cher em seus programas era o estilista Bob Mackie, que ela conheceu alguns anos antes de sua estreia como apresentadora de TV, quando os dois se esbarraram no backstage do programa The Carol Burnett Show (Mackie fazia os fabulosos figurinos de Carol Burnett na época). A dupla tornou-se inseparável a partir de 1967, e Mackie vestia Cher não apenas durante o trabalho da artista, mas também para Red Carpets, eventos, e claro, foi ele o responsável por alguns dos looks mais icônicos que Cher exibiu em premiações. As peças que Mackie desenhava especialmente para Cher usar em eventos são copiadas e homenageadas até hoje por diversas celebridades e artistas. Os mais famosos looks, talvez, sejam o vestido translúcido coberto de cristais e plumas que Cher exibiu durante o MET Gala de 1974 cujo tema era Romantic and Glamourous Design, e o conjunto amarelo também coberto de pedraria (e exibindo uma ousada barriga de fora) no Red Carpet do Oscar em 1973. Outra imagem da musa vestindo um original Bob Mackie que está grudada em nossas mentes é a de Cher cantando a música “When Will I Be Loved” ao vivo em seu programa solo The Cher Show, em 1975.
E os muito conhecidos figurinos de Cher em seus dias de apresentadora, também produzidos em parceria com Bob Mackie, ficavam mais excêntricos e luxuosos a cada episódio. A vestimenta era a parte mais aguardada dos programas, e Cher já chegou a exibir até 20 figurinos diferentes em um único episódio. Outra característica marcante desse período fashion da atriz, e que hoje é lembrada como sua marca registrada, era o seu longo cabelo preto, quase sempre estritamente liso, sem nenhum fio fora do lugar. No inicio de seu sucesso, Cher ainda exibia uma longa franja que contrastava com o enorme cabelo, mas depois aderiu ao corte totalmente reto e simétrico. Suas unhas eram muito longas e coloridas, e Cher usava e abusava de tops justinhos, vestidos decotados, lápis de olho e blush rosa pink.
E quando flagrada por Paparazzi fora das suas office hours, Cher podia ser vista exibindo looks modernos para a época, como calças jeans, casacos de pele, cowboy hats, blazers coloridos, decote profundo, maxi sunglasses, chapéus de todos os tipos, botas, camisas, batas estampadas e sempre (sempre) um cigarro entre os dedos contrastando com a vibrante maquiagem, os anéis e relógios de ouro e prata, os colares e braceletes de pedraria e os cílios postiços.
Após o seu divórcio de Sonny Bono em 1975, Cher casou-se no mesmo ano com outro músico famoso, o cantor, compositor, guitarrista e co–fundador da The Allman Brothers Band, Gregg Allman (1947-2017). O casal disse ‘sim’ um para o outro apenas 4 dias depois de Cher e Sonny assinarem os papéis de divórcio, com a cantora e o rockstar pulando rapidamente em um jatinho particular rumo a Las Vegas (Nevada). Infelizmente, o casamento da improvável dupla foi curto e turbulento, majoritariamente por conta do vício em álcool e heroína do rockstar. O casal ficou junto de 1975 até 1979, porém Cher chegou a assinar a separação do músico apenas 9 dias após a cerimônia de casamento. O casal se reconciliou no mês seguinte e manteve o casamento, além de, em 1976, darem boas vindas ao único filho do casal (e segundo filho de Cher). O casal entregou, mesmo que em um curto período de tempo, looks icônicos em Red Carpets, eventos, Night Clubs, photoshoots românticos e claro, nos palcos de shows, afinal, estamos falando da junção de uma estrela do pop com um rockstar.
E além dos looks e das infelizes polêmicas, o casal também se juntou em uma área que era a paixão de ambos, a música. A dupla batizada Allman and Woman lançou um álbum de estúdio em 1977, mas não fez o sucesso que eles esperavam. A essa altura, as turbulências no casamento dos dois já haviam aumentado graças a estreia do programa The Sonny & Cher Show, em que a cantora dividia o posto de apresentadora com o ex–marido Sonny Bono. O episódio causou uma tentativa de divórcio por parte de Allman, que desistiu assim que soube que Cher estava grávida do primeiro filho do casal. Porém, após o divorcio em 1979, Cher expressou sua tristeza pelo fracasso do casamento com Gregg na música “My Song (Too Far Gone)”, em que ela canta, em uma performance ao vivo, que lamentava que seu ex-marido nunca fosse conhecer o filho. O momento foi registrado por ninguém mais ninguém menos do que Sonny Bono, que filmou o pequeno Ellijah Allman sorrindo atrás da mãe.
Nas décadas seguintes, Cher ascendeu na carreira de atriz, e além de estrelar em diversos blockbusters (citados acima) e ter feito aparições em séries de sucesso da TV, a atriz levou para casa da tão sonhada estatueta do Oscar na categoria Melhor Atriz em 1988 e as estatuetas do Globo de Ouro nos anos de 74, 84 e 88 nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Atriz de Comédia. Se não bastasse o sucesso de seus programas de variedades da década de 70 e o sucesso na carreira de atriz, Cher também tem como propriedade 1 estatueta do Grammy, recebida em 2000 na categoria Melhor Gravação Dance, e duas estatuetas da conceituada Billboard, que em 2002 a nomeou Melhor Artista Dance/Eletrônica e em 2017 a declarou Ícone.
A irreverência de Cher é parte fundamental de seu charme e apelo com o público e os amantes de moda. A It Girl carrega o título de ícone fashion justamente porque seu guarda–roupas reflete sua arte, sua energia vibrante, e principalmente, sua autenticidade. Cher veste exatamente o que ela está afim de vestir naquele dado momento, e isso lhe dá o poder da autoconfiança, que é inspirador, quase contagiante. Não é à toa que a musa pop é hoje uma referência fashion constante de artistas contemporâneas como Zendaya, Dua Lipa e a sua maior fã Kim Kardashian.
E quando falamos da irreverência de Cher, também estamos vendo além de seu guarda–roupas. A musa sempre foi uma feminista declarada, não teve receio de expor seus relacionamentos amorosos com atores e músicos famosos, não demonstrou medo em ousar em seus looks em uma época conservadora, e definitivamente não pensou duas vezes antes de expor sua visão de mundo em diversas entrevistas muito sinceras. A mais famosa pode-se dizer que é sua entrevista para a jornalista da NBC Jane Pauley em 1996, que deu a luz a icônica frase de Cher “Mom, I am a Rich Man“. Confira um fabuloso trecho da conversa:
E Cher continua até os dias atuais vestindo-se de brilho, decotes, hot pants, bodysuits, jaquetas de couro, chapéus e make marcante. E achamos ela fará isso até o dia de sua morte, porque uma It Girl é uma fashionista até o fim. Muito obrigada pelo seu legado que só cresce a cada dia no mundo da moda, da música, do cinema e da arte, Cherilyn.