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VOCÊ JÁ OUVIU FALAR? – A ORIGEM DO NOME SEXY SADIE

De onde veio o nome que encabeça a nossa comunidade? Como se conecta com a Cultura, a Música e Hollywood?

Para saber mais sobre, vamos voltar no tempo direto para o final dos anos 60 e embarcar numa grande mistura de Moda, Rock’n’Roll, Movimento Hippie , os Beatles, Gurus Espirituais de Celebridades e os Beach Boys.

ORIGEM DO NOME, ROCK’N’ROLL E FALSOS MESSIAS

Após uma decepcionante viagem em grupo à Índia, nosso quarteto favorito de músicos, os Beatles, voltaram para casa enjoados da psicodelia de seus álbuns anteriores, e definitivamente enojados com o comportamento do, até então Guru Espiritual da banda, Maharishi Mahesh Yogi (1917-2008). Como uma espécie de rebeldia ao contrário, John Lennon (1940-1980), George Harrison (1943-2001), Paul Mccartney e Ringo Starr deixaram de lado o uso de entorpecentes psicodélicos e de sons experimentais para retornar com um trunfo mais sóbrio porém certeiro nas mangas como resultado: o aclamado (e quase mítico, por sua raridade) disco The White Album (ou conhecido por muitos de nós como O Álbum Branco).

O disco, que é duplo, conta com diversas críticas à sociedade da época e oferece as sonoridades mais diversas misturadas pelo grupo em um só álbum até então. Mas aqui queremos focar na faixa de número 05 do lado B do álbum: a música Sexy Sadie. A faixa veio como uma crítica de John Lennon ao tal Guru Espiritual Maharishi Mahesh Yogi, que foi, de forma sutil e velada, classificado como um charlatão pelos Beatles. Apesar da crítica, o disfarce dela é vender a música com uma protagonista feminina, a tal Sexy Sadie, que é um ícone, uma tendência que todos do mundo querem passar a seguir. A letra conta pouco sobre a misteriosa mulher, mas deixa claro que todos querem se sentar na mesa com ela, mas na verdade, ela é uma farsa.

CONTROVÉRSIAS, MODA E O SUMMER OF LOVE

Mas como todo bom disco, existe também uma controvérsia causada pelo mesmo. E essa foi uma das maiores do mundo da música. Em 1968, saindo em grande parte da Abbey Road Studios na Inglaterra e chegando direto ao topo das paradas nos Estados Unidos e no mundo, as faixas do The White Album chegaram às mãos de outro Guru Espiritual charlatão (este desconhecido pela banda até então), um homem chamado Charles Manson* (nascido Charles Miles Maddox -1934-2017). A ideia de Gurus ou Guias Espirituais, além das recém chegadas tendências de moda Folk, Bohemian e Hippie nas vitrines das lojas, estava em uma crescente no final da década de 60 em Hollywood, com uma população de todas as idades sentindo-se perdida e buscando por respostas, por um novo lifestyle. Assim surgiu o movimento hippie, na época apelidado de Summer of Love (O Verão do Amor), que pregava o fim das guerras e violência, a paz no mundo, o amor livre e o desapego de bens materiais. Além de contar, é claro, com muito Rock Psicodélico, novos entorpecentes alcançando a população jovem estadunidense (como o LSD, por exemplo), e muita, mas muita crítica social e protestos nas ruas de todo o país (e do mundo).

Aproveitando-se do desejo de esperança e da inocência de um público jovem e majoritariamente feminino, Charles Manson criou o seu próprio ‘culto hippie’, conhecido por nós nos dias atuais como Família Manson, onde ele, “Charlie”, como era carinhosamente chamado, assumia o papel de guru, de um grande guia para as mentes jovens que o cultuavam e o seguiam pelos desertos da California, largando empregos, estudos e bens materiais, fascinados pela ideia de transcender, alcançar o nirvana, e usar e abusar de psicodélicos o verão todo.

Manson não tinha nenhuma mensagem à passar para aqueles jovens, e era uma influência extremamente negativa para eles, além de ser uma figura violenta, egocêntrica e vender uma falsa imagem do mundo. Com a falta de suas próprias palavras, Manson foi ‘tocado’ pelo The White Album assim que o mesmo alcançou as paradas de sucesso, e resolveu então fazer das palavras do quarteto britânico, as suas. E ainda mais grave, encontrar falsos significados por trás de cada faixa dos lados A e B do aclamado disco, delirando que a banda, na verdade, estava falando especificamente com ele por meio de códigos e metáforas. Manson então passou a pregar a sua versão das mensagens dos Beatles, vendendo-se como uma espécie de novo messias.

As faixas do The White Album eram incorporadas o tempo todo na rotina da Família Manson. A faixa que dá nome ao nosso Blog, por exemplo, não escapou da controvérsia e do horror de Charles Manson. Sexy Sadie foi o “novo nome” escolhido por ele para uma de suas mais fiéis seguidoras, a jovem Susan Atkins (1948-2009), que era considerada muito bonita e havia trabalhado como dançarina e stripper previamente em casas noturnas e eventos da igreja satânica (fundada pelo polêmico Anton Lavey) na California dos anos 60. Já a faixa em sequência, Helter Skelter, que originalmente fazia alusão à uma montanha russa na Inglaterra, recebeu um novo e macabro significado na boca de Manson, que usou o nome da faixa como título de uma guerra racial, não existente, entre brancos e negros nos EUA. A tal Helter Skelter deveria terminar com os negros acreditando que saíram vitoriosos, para na verdade, serem ‘derrotados’ pelos membros do culto de Manson (que contava somente com pessoas brancas). Isso aconteceria, segundo Charles Manson, porque assim que a guerra tivesse início, ele e seus seguidores estariam escondidos em uma espécie de abrigo subterrâneo, um oásis que diferia do planeta Terra, já que estando lá, você poderia se transformar no ser mítico que desejasse (fadas, elfos, borboletas, etc). E ao sair do esconderijo paradisíaco que ficava situado abaixo das terras desérticas da California, seriam eles os grandes salvadores da pátria.

O resultado dessa falsa narrativa foi uma série de crimes e assassinatos cometidos pelos membros do culto a mando do próprio ‘guru’, como forma de iniciar a tal Helter Skelter (já que a tal nunca se iniciava e os seguidores de Charlie estavam ficando impacientes), assombrando Hollywood, que entre as sete vítimas contava com a atriz em ascensão e esposa do aclamado diretor de cinema Roman Polanski (Rosemary’s Baby, no Brasil O Bebê de Rosemary), Sharon Tate (1943-1969), para sempre. Tate ficou muito conhecida por atuar no filme Valley of the Dolls (O Vale das Bonecas) de 1967 e por outras menores participações em produções hollywoodianas da época. Com as vítimas desse sangrento crime conhecido como Os Assassinatos Tate-Labianca morria também uma parte de Hollywood e toda a idealização do Summer of Love e do movimento Hippie, que passaram a ser marginalizados pela sociedade conservadora da época.

Mesmo com a polêmica que foi gerada (e ainda é) ao redor da frase Helter Skelter, os Beatles não deixaram de tocar a música em shows. Paul Mccartney, em especial, é muito fã da obra e continua tocando-a lindamente em seus shows solo. Afinal, a música é um clássico atemporal e não possui nenhuma mensagem negativa por trás como Manson fez parecer. Esse foi o começo a ressignificação da narrativa.

Paul Mccartney toca Helter Skelter em sua turnê de 2019 ao lado de Steven Tyler, vocalista da banda Aerosmith.

RESSIGNIFICANDO A NARRATIVA, HEADBANDS, LIBERTAÇÃO SEXUAL, FESTIVAIS DE MÚSICA E ESTAMPAS FLORAIS

Porém, vale ressaltar que Charles Manson e seus seguidores não representam o verdadeiro, e lindo, significado do movimento Hippie. Nos dias atuais estamos constantemente rodeados de maravilhosas lembranças das décadas de 60 e 70, como por exemplo, festivais de música icônicos como o Woodstock Music & Art Fair (Bethel, New York, 1969), moda atemporal (estampas florais muito coloridas, headbands, maxi dresses, coroas de flores, botas de cano alto, maxi sunglasses, jaquetas e coletes de franja, mini saias, cabelos milimetricamente repartidos ao meio, mangas bufantes, calças boca de sino, tranças no cabelo, batas bordadas e sobreposições), de libertação sexual e normalização do corpo nu, e claro, de avanços importantes para os direitos humanos e fim da segregação racial. Toda essa contracultura fashion, inovadora, militante pela paz e considerada rebelde ficou conhecida despretensiosamente como movimento Flower Power (Poder das Flores, em livre tradução).

NOSTALGIA ETERNA, SALAS DE CINEMA, STREAMING DE MÚSICA E FASHION SHOWS

Hoje, temos muito a agradecer à contracultura dos anos 60 e 70 e somos fascinados pela nostalgia que a moda, a música e as imagens da época nos trazem. E todo esse Flower Power ainda está vivo nas produções artísticas contemporâneas.

E Charles Manson e seus seguidores? Sugiro que deixemos que caiam no esquecimento cultural, tornando-se, finalmente, tão medíocres para a história quanto sempre foram.

E a nossa interpretação do significado de Sexy Sadie? Ela é o título de charlatanismo que ilustra falsos Gurus e Messias e que ilustra, talvez, a mais sedutora e perversa charlatã da história: a nossa querida Hollywood.

Vida longa ao Summer of Love, ao Flower Power e claro, ao grande Fashion Icon e artista que foi Sharon Tate.

*Charles Manson e seus seguidores (Susan Atkins, Leslie Van Houten, Patrícia Krenwinkel, Charles ‘Tex’ Watson e Bobby Beausoleil) que tiveram participação direta nos assassinatos Tate-Labianca foram todos condenados à prisão perpétua no estado da California no ano de 1971 e seguem encarcerados até os dias atuais.

Quer saber mais sobre a relação entre Moda, Arte, Cultura, Música e Bastidores de Hollywood? Acompanhe o SXSD nessa jornada louca e fashion nas redes sociais, clicando aqui embaixo.

@SEXYSADIEBLOG


2 respostas em “VOCÊ JÁ OUVIU FALAR? – A ORIGEM DO NOME SEXY SADIE”

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