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VOCÊ JÁ OUVIU FALAR? – HEROIN CHIC STYLE

O polêmico termo dá nome a uma bizarra mistura de moda e lifestyle cujas principais características dos adeptos eram as olheiras aparentes, cabelos sujos e bagunçados, androginia, magreza extrema e qualquer traço físico que remetesse ao uso de drogas, em especial, a heroína. De onde surgiu o conceito? Quando esteve em alta? Quem eram os adeptos? E o mais importante, a discussão sobre a linha tênue entre o que é expressão de estilo e o que é um sinal de alerta da sociedade para si própria.

A década de 80 popularizou algumas das maiores modelos de passarela da história, como Cindy Crawford e Claudia Schiffer. As estrelas dessa onda fashion eram mulheres magras mas voluptuosas, que vestiam roupas altamente coloridas e estampadas, muito neon, cabelo impecavelmente arrumado e que vendiam um lifestyle de “magreza como sinônimo de saúde”, incentivando exercício físico e dietas repletas de alimentos saudáveis (a famosa época da popularização das fitas cassete de ginástica para fazer em casa, protagonizadas por celebridades). Mas quando o mundo da moda menos esperava, uma adolescente rebelde e de estilo punk foi casualmente fotografada exibindo seu estilo ‘cool girl‘ em uma pista de dança, e sua foto foi parar nas mãos de grandes empresários do ramo fashion, fazendo com que a garota, a jovem norte-americana e filha de italianos, Gia Carangi, se tornasse o novo rosto da moda. Acontece que a rebel girl, apesar de esbanjar talento como modelo, em poucos anos caiu direto das capas de revistas renomadas ao anonimato total. O grande culpado da queda da estrela em ascensão foi o seu vício em heroína, droga que estava se popularizando naquela época, e que, por ser injetável, deixava marcas e feridas pelos corpos dos usuários. Gia não era mais convidada a desfilar ou posar para grandes fotógrafos (ou qualquer fotógrafo) por conta de suas visíveis marcas de injeção, e eventualmente, por sua fadiga que era causada majoritariamente pela mistura de seu vício em drogas e bebida com a doença de AIDS que a modelo contraiu devido ao uso contínuo de seringas comunitárias. Ao final da década de 80, Gia já havia sido levada pela doença, aos 26 anos de idade. Um filme sobre sua breve e selvagem vida foi feito em 1998, com Angelina Jolie no papel principal.

Gia Carangi é muitas vezes apontada como a pioneira do estilo Heroin Chic, já que exibia looks repletos de cores sóbrias, jaquetas de couro, olhos fundos tingidos de preto, cabelo desarrumado e estava sempre com um cigarro e um copo de bebida em mãos. Além de, claro, apresentar um vício em heroína. Apesar de sua vida, e carreira, terem sido terminadas tão rápido, Gia é até hoje apontada como a primeira Supermodel do mundo. Com a chegada dos anos 90, novos rostos estampavam as revistas de moda e exibiam seus catwalks pelas passarelas, mas com um novo, e radicalmente, diferente estilo do popular na década anterior. As Supermodels estavam em alta e eram cada vez mais esbeltas, de maneira visivelmente não saudável, e as cores sóbrias vieram como uma antítese às cores vibrantes dos anos 80. E foi nessa mesma época que movimentos culturais como o Grunge atingiram o público jovem em cheio, trazendo para dentro do mundo da moda a glamurização das drogas. A droga da qual estamos falando especificamente nesse artigo, a heroína, era considerada ate então uma droga nada glamurosa, já que além de envolver picadas de agulha pelos braços e pernas dos usuários, ainda foi uma das grandes responsáveis pela epidemia de AIDS nos EUA e Europa. Mas com novas versões da droga chegando ao ‘mercado’ norte-americano e britânico, onde os jovem podiam simplesmente inalar a substância, o estigma e a marginalização da heroína deram espaço para a ascensão dela entre os jovens de classe média alta.

E a nova droga do momento acompanhava, sem faltar, os músicos da era Grunge que estavam em crescente como os membros das bandas Nirvana, Pearl Jam, Smashing Pumpkins, Alice in Chains, Hole e Stone Temple Pilots. E também passou à acompanhar as topmodels mais desejadas e copiadas do mundo, como por exemplo, as maiores precursoras do Heroin Chic, a britânica Kate Moss, a belga Tanga Moreau e a estadunidense Jaime King. A cantora Fiona Apple também aderia ao estilo de vestir-se da polêmica trend. E a bolha de Hollywood também garantiu sua entrada na nova era fashion com atrizes como Chloë Sevigny e Angelina Jolie exibindo não apenas os looks mas também os vícios em entorpecentes. Quando se ligava a televisão ou ia ao cinema, era cada vez mais comum dar de cara com protagonistas fictícios viciados em drogas, afinal, os anos 90 nos trouxeram clássicos cinematográficos como Pulp Fiction, Kids, Girl Interrupted e Transpotting.

As passarelas e photoshoots foram tomados pela maquiagem apagada, o aspecto de ressaca de balada, os cabelos cheios de nós aparentes, o batom escuro borrado, os ossos expostos, o cigarro e a sujeira misturados inusitadamente à peças de roupas luxuosas como casacos e coletes de pele, bolsas de grife, jaquetas de couro, salto alto, e campanhas publicitárias para grifes de alta costura. Alguns dos ensaios fotográficos mais conhecidos por terem abordado de forma ‘glamurosa’ o Heroin Chic foram as dos perfumes da marca Calvin Klein em 1993. Os ensaios traziam estrelas como Kate Moss, Jaime King e Vincent Gallo.

E por trás das ‘musas’ do Heroin Chic, estavam os fotógrafos e artistas que ajudaram a criar esse conceito e torna-lo pop. Os principais nomes da cena são os da inglesa Corinne Day e o do italiano Davide Sorrenti, que fotografaram inúmeras vezes as modelos citadas acima, além de, eles próprios serem usuários de heroína. A criação do conceito de Heroin Chic em forma de editoriais de moda não era suficiente para os fotógrafos, que levaram o lifestyle perigoso para suas vidas pessoais, causando a morte precoce de Sorrenti aos 20 anos de idade por uma suposta overdose da ‘glamurosa’ droga. Com a morte do artista, em 1997, todos os billboards e as revistas cessaram, quase imediatamente, a exibição do estilo Heroin Chic. A fotógrafa de moda Francesca Sorrenti, mãe de Davide, alegou que o filho sofria de alguns problemas de saúde, e que uma quantidade muito pequena de heroína foi encontrada em seu sangue, mas que isso já foi suficiente para conectarem a morte do jovem à tal febre da heroína chic‘. Francesca declarou também “Isso é heroína. Isso não é chic. Isso tem que parar, essa heroin chic“. Após a morte do filho, Francesca juntou-se a outros nomes da moda e da fotografia para criar uma campanha contra as drogas. Sobre essa conquista e o legado do filho, ela declara “[…] salvou a vida de muitos jovens e acabou de vez com o heroin chic […] Esse é o seu legado, e é um dos bons.”

O controverso mas também muito querido fotógrafo foi celebrado em um documentário biográfico chamado See Know Evil, com fotos pessoais, relatos de familiares e amigos, filmagens caseiras de sua adolescência, e depoimentos de celebridades que passaram bastante tempo ao seu lado como a própria Jaime King, Mila Jovovich, e outros. O documentário é descrito como uma visão sem censura da vida e obra do fotografo fashion dos anos 90 e ícone cultural da juventude da época.

Já o outro nome que ajudou a dar vida ao Heroin Chic no mundo da fotografia e dos editoriais de revistas foi a britânica Corinne Day, que costumava trabalhar como modelo mas, em uma viagem a Ásia, acabou descobrindo sua paixão em ficar atrás das câmeras ao invés de a frente delas. A fotógrafa alcançou sucesso ao ser contratada pela revista conceitual The Face, e sua primeira (e mais marcante) musa escolhida foi uma ‘magricela‘ de ‘beleza crua‘, uma ainda desconhecida Kate Moss adolescente. A partir do lendário editorial de 1990 onde Kate aparece de topless, com um cocar na cabeça e sem maquiagem, os nomes das duas artistas foram direto ao topo da indústria da moda. Corinne Day foi a responsável por fotografar a primeira capa de Kate Moss para a Vogue Magazine em 1993, mas seu estilo de fotografia era mais ‘caseiro’ já que ela tinha uma paixão por fotografar pessoas conhecidas e amigos, e focar em exibir imperfeições corporais e o naturalismo da vida. A fotógrafa também clicou nomes como Linda Evangelista, Gisele Bündchen, Alexander McQueen e Kirsten Dunst.

A heroína era predominante da cidade de Seattle, que até mesmo foi classificada por Courtney Love como “a meca das drogas, onde a heroína é mais fácil de se obter do que em San Francisco ou Los Angeles“. A vocalista da banda grunge Hole sabe muito bem do que está falando, já que convivia diariamente com os membros da cena musical de lá, e inclusive foi casada com Kurt Cobain, vocalista da, hoje, mais conhecida representante do estilo grunge, a banda Nirvana. Grandes nomes da música da década de 90 como Kurt Cobain, Mike Starr (Alice in Chains) e Jonathan Melvoin (The Smashing Pumpkins) eram usuários da droga e morreram ou por overdose ou por fatores que desencadeavam seus vícios, como as doenças emocionais. O que a estimulante cocaína representava nos anos 80 era socialização, diversão, celebração e energia como um reflexo daquela década que era repleta de pessoas ‘felizes e animadas’, enquanto a heroína representava um refúgio de seus problemas e dores, um casulo para te proteger de um mundo cruel, por isso era tão famosa entre artistas que sofriam de depressão, ansiedade, bipolaridade, etc. Os jovens já não se sentiam representados dentro de uma sociedade que exigia felicidade constante, alta energia que causava exaustão, e roupas que se vendiam graças à modelos e artistas sorridentes montados em esteiras de academia e cobertos de tinta neon.

O fotógrafo Davide Sorrenti era namorado da modelo e atriz Jaime King, e como mencionado anteriormente, ambos eram viciados em heroína e adeptos do estilo Heroin Chic. Duas das imagens mais populares e assustadoras desse período são fotografias feita por Sorrenti que clica Jaime King em P&B espetando uma seringa cheia em seu corpo e rasgando sua calça com uma faca, enquanto exibe uma aparência apática sentada em um imundo sofá. A romantização das drogas e da magreza excessiva estavam começando a alarmar o público mainstream. Aliás, outra característica dessa época era produzir ensaios fotográficos caseiros, com fotos desfocadas e maquiagem desleixada. Os cenários dos tais photoshoots incluíam quase sempre quartos, hotéis, carros e banheiros, todos repletos de pacotes de cigarro, garrafas de bebida, pilhas de roupas jogadas, isqueiros, e parafernálias que mostrassem a bagunça do ambiente num geral. E os looks não eram tão glamurosos como os que as musas do Heroin Chic gostavam de exibir nas saídas dos Night Clubs, e sim roupas rasgadas, manchadas, extremamente largas, e até lingeries. Os pés muitas vezes estavam descalços e imundos, mas não faltava sombra nos olhos e batom nos lábios.

Apesar do polêmico estilo ter criado uma má fama, sendo considerado responsável pelas mortes e overdoses de milhares de jovens, o Heroin Chic só começou a desaparecer quando o então presidente dos EUA, Bill Clinton, deu uma declaração em 1997 de que “a indústria fashion estava há anos fazendo com que o vício parecesse sexy e cool, o que não era saudável“. Esse discurso deu-se a partir da morte do fotografo Davide Sorrenti, 3 meses antes. Durante o documentário biográfico sobre Sorrenti See Know Evil (2018), é possível ouvir mais polêmicas falas do presidente Clinton sobre a indústria da moda. A partir de então, o mundo da moda passou a investir novamente na ideia de que as modelos eram saudáveis, cheias de vida, sensuais, e o principal rosto dessa transformação foi a Supermodel Gisele Bündchen. A modelo recebeu uma matéria da Vogue inteira sobre ela com o título “O Retorno da Modelo Sexy“. Apesar de Gisele ser tão magra quanto todas as outras modelos da década de 90, ela parecia ser um novo rosto por ser uma brasileira (pele bronzeada, seios grandes, e um derrière, como dizem os franceses, mas que nós chamamos de bunda mesmo). A própria Gisele Bündchen admitiu que foi o principal rosto dessa mudança na indústria das passarelas em uma recente participação na conta oficial de youtube da Vogue Britânica (Vogue UK). A supermodel disse o seguinte enquanto revisitava seus mais icônicos looks ao longos dos anos no quadro Life in Looks:

“[…] Eu me lembro de ir à todos esses castings na época e ninguém querer nem olhar o meu portfolio porque estávamos na Era Heroin Chic e eu não me parecia nada com o heroin chic, obviamente […]”

Ainda durante a sua participação no quadro Life in Looks, Gisele também comentou sobre a famosa capa de 1999 da Vogue, que foi estampada por diversas modelos icônicas juntas, inclusive a modelo brasileira bem ao lado de Kate Moss.

“Essa foi uma capa com Kate, Iman, Lauren Hutton, eu. Eu tinha 19 anos, foi muito especial estar lá com aquelas mulheres lindas. Era como se representassem as modelos de cada ano […] Eu era considerada o rosto dos anos 2000, e Kate era dos anos 90.”

O grande ponto de virada foi justamente na transição de uma década para a outra, já que no ano de 2000, Gisele estampou pela primeira vez sozinha, a capa da revista Vogue. O ensaio, que foi fotografado por Irving Penn e roteirizado por Philip Weiss, tinha o título “The Return of the Curves” (O Retorno das Curvas). Sobre esse acontecimento, a modelo Nicole Phelps declarou “A ironia de Gisele ser colocada em uma edição da revista sobre curvas […] É que ela era tão magra quanto as modelos que a antecederam, mas ela era alta, ela tinha seios, ela tinha uma bunda, e isso a tornava suficientemente diferente a ponto de representar a ideia de curvas.”

Mas será mesmo que as rebel girls que eram adeptas ao Heroin Chic deixaram o lifestyle para trás? Será que a sombria era fashion não ganhou novos seguidores?

O Heroin Chic reapareceu na segunda metade dos anos ’00s e perdurou até meados dos 2010s, porém em nenhum momento foi chamado pelo seu verdadeiro nome. A epidemia de heroína já não era grande como na década de 90, mas o estilo desleixado, as fotos caseiras, a maquiagem borrada, os casacos de pele combinados com roupas rasgadas, o consumo de cigarros e bebida, isso foi o que permaneceu como legado do Heroin Chic. Fashionistas como a atriz Lindsay Lohan e as socialites Paris Hilton e Nicole Ritchie passaram a tornar comum o uso de entorpecentes, as DUI’s (dirigir sob o efeito de álcool ou narcóticos), casacos de pele animal contrastando com calças jeans de cintura baixa rasgadas, pacotes de cigarro e copos enormes de café ou bebida energética. Passou a ser rotineiro ver as estrelas teen do momento farreando em baladas até o dia amanhecer e os tabloides eram infestados de fotos das garotas bêbadas, vulneráveis, de ressaca, desarrumadas. O lifestyle delas foi duramente criticado pela mídia da época, mas os amantes de moda e cultura pop estavam obcecados pelos looks e polêmicas que elas entregavam. Esse fascínio do público em querer saber cada vez sobre as vidas pessoais das celebridades, e dos jovens sentirem o desejo de copiar as roupas e modo de vida frenético dos ídolos fashion chegou ao seu pico por volta de 2007, perdurando até meados dos anos 2010’s. Mas foi o estilo Tumblr Girl, por exemplo, um dos responsáveis por atingir garotas e garotos do mundo inteiro, mas dessa vez não foi por meio de revistas e campanhas publicitárias, e sim por meio da internet. Nomes grandiosos de Hollywood ou da cena musical do novo milênio exibiam o que sobrou do estilo Heroin Chic quando fotografadas nas ruas, nas saídas das baladas, em suas fotos caseiras tiradas com câmeras digitais e celulares. Nomes estes como as cantoras Lily Allen e Sky Ferreira, as atrizes e fashion designers MaryKate e Ashley Olsen, e a atriz Kaya Scodelario (que exibia o estilo tanto na vida real quanto nas telas com sua icônica personagem Effy Stonem, na controversa série britânica Skins) são alguns exemplos. E não poderíamos deixar de citar a controversa capa da revista Vanity Fair que trazia a jovem Miley Cyrus em 2008 seminua e exibindo um look apático, pele vampiresca e ossos expostos pela magreza excessiva.

E não podemos deixar de lembrar que foi durante essa mesma época do extremo fascínio pela cultura pop e celebridades ‘trashed que aconteceram os famosos assaltos às mansões de celebridades de Hollywood. Os assaltos eram feitos por um grupo de adolescentes residentes da cidade de Calabasas (Califórnia), que fica ao lado de onde as estrelas da música e do cinema tentam viver uma secreta e quieta vida. A ‘gangue de Hollywood‘ ficou mundialmente conhecida como “The Bling Ring” e foram oficialmente expostos aos tabloides graças à jornalista Nancy Jo Sales que entrevistou um dos membros do grupo, transformando a entrevista no incrível artigoThe Suspects Wore Louboutins” para a revista Vanity Fair em 2011. Esses e muitos outros jovens da época estavam obcecados com a chegada de redes sociais como Twitter, Facebook e Myspace que permitiam acesso à fatos particulares das vidas, até então, secretas das celebs. E também foi graças à essa obsessão com as rebel girls que houve um aumento gigantesco na produção de reality shows em canais de TV norte-americanos como a MTV e o E! Entertainment Television que mostravam o dia a dia de jovens ricas e problemáticas. Um dos maiores exemplos dessa ‘febre’ foi o reality Pretty Wild que seguia a rotina de 3 irmãs adolescentes que desejavam entrar para Hollywood a qualquer custo. Uma dessas garotas era ninguém mais ninguém menos do que Alexis Neiers, uma das mentes por trás dos roubos cometidos pelos Bling Rings (e condenada à seis meses de prisão). Alexis também era usuária de diversos tipos de entorpecentes, o principal deles sendo, vocês adivinharam, a heroína. Mas vamos deixar todos os detalhes polêmicos sobre a gangue de Hollywood para um artigo especial sobre eles.

O estilo foi timidamente tomando forma novamente e fazendo aparições em editoriais de moda, séries e filmes de sucesso, palcos de festivais, e nos primórdios de apps como Tumblr e Instagram. Outras adeptas do estilo desleixado foram a modelo Rosie HuntingtonWhiteley, a frontwoman da banda The Pretty Reckless, Taylor Momsen, e até alguns editoriais de moda aderiram ao ressuscitado estilo, colocando, por exemplo, a modelo e atriz Cara Delevigne como um rosto ‘trashed‘ e rebelde das campanhas.

Em 2016 a Hunger TV definiu um novo conceito para esse Heroin Chic Style contemporâneo que surgiu com a chegada da internet:

“Em 2016, a referência ao heroin chicé um código para: calças jeans rasgadas e roupas oversized, cabelo descolorido, projetos de fotografia de ensino médio, blogs de fãs dedicados à Kate Moss, círculos pretos embaixo dos olhos, banheiras imundas, biografias de Kurt Cobain na mesa de centro da sala, possivelmente ter o álbum Back to Black de Amy Winehouse em vinil, campanhas publicitárias vintage de Calvin Klein, e ser muito, muito fã de Sky Ferreira“.

Podemos observar que o Heroin Chic renasceu mas trouxe consigo apenas a estética trashed, e não necessariamente aquela antiga glamurização da heroína e de outras drogas ilícitas. Os novos adeptos queriam parecer desleixados e drogados sem de fato estarem, apenas pelo aesthetic. Mas será que isso pode ser considerado uma real tendência de moda? Há quem responda que sim, e quem repudie qualquer referência ao estilo desde 1997 com a morte de Davide Sorrenti. Aos que acreditam no Heroin Chic Style como apenas uma estética e um figurino, e não como uma forma de viver e apoiar o uso de drogas, o estilo apresenta apenas o defeito de ser nomeado ‘heroína chic‘, já que expressa a polêmica junção de dois mundos muito distantes: a dependência de drogas e a decadência que o vício causa contrastando com uma vida repleta de dinheiro, glamour e luxo. Nas palavras de Jefferson Hack, co-fundador da famosa mídia de moda e beleza Dazed:

“O mundo da moda tem a responsabilidade de lidar com problemas. Seria muito mais destrutivo se a moda exibisse apenas pessoas sorridentes e felizes. O mundo da moda têm tido que lidar com problemas da vida real desde a década de 80, e a heroína já infiltrou-se em todas as áreas da sociedade. Ignorar isso é perigoso”.

críticos de moda e historiadores que acreditam que o Heroin Chic era muito menos sobre o uso da romantização do vício em drogas como forma de vender roupas, mas muito mais a moda refletindo os sentimentos da população da época. Considerando que as décadas que antecederam os ’90s foram todas construídas a base de capitalismo selvagem, imagens de mulheres impecáveis e pessoas ‘sem defeitos ou problemascontrastando com horríveis acontecimentos históricos como guerras, serial killers à solta e uma assustadora crescente da tecnologia, faz todo o sentido que a última década daquele século refletisse o resultado de toda essa bagunça anterior. No artigo High Fashion, Heroin Chic da Hunger TV, o autor Max Grobbe declara:

“[…] As acusações de que a moda estava conectada ao uso de drogas é infundada? Não. Mas é mais controverso do que o uso de drogas no mundo do esporte competitivo? Na cena musical? No mundo coorporativo? Não. As drogas, sorrateiras como são, podem se infiltrar em qualquer indústria que gere lucros […] A popularidade do estilo heroin chic ao final do século é uma reação à apatia do sucesso do capitalismo e ao tédio que a cultura pop emanava nos grunge anos 90.”

Nós do SXSD não somos a favor da romantização de qualquer entorpecente como forma de se expressar no mundo da moda, mas o debate sobre essa e outras controversas tendências fashion devem existir. E caso sejam uma ameaça à vida dos adeptos e tornem-se uma epidemia, devem ser combatidas. O importante é manter a discussão saudável e ouvir o que profissionais das áreas de moda, cultura e saúde têm a dizer, sempre. E você, já tinha ouvido falar no polêmico Heroin Chic? Tem uma opinião ou um depoimento sobre? Queremos ouvir tudo.

Quer saber mais sobre a relação entre Moda, Arte, Cultura, Música e Bastidores de Hollywood? Acompanhe o SXSD nessa jornada louca e fashion nas redes sociais, clicando aqui embaixo.

@SEXYSADIEBLOG

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FTV Fashion Television

FTV – FASHION TELEVISION – MEGAN DRAPER DE MAD MEN

De modelo fotográfica francesa à secretária nova iorquina na agência de publicidade Sterling Cooper. De amante de um dos maiores anti-heróis de Hollywood à aspirante a atriz de comerciais e novelas norte-americanos. Da luxuosa moda da década de 60 até a moda hippie do início dos anos 70. Da solteira, livre e artística Megan Calvet à esposa troféu Megan Draper. Vem com a gente conferir a evolução do figurino de uma das mais fashionistas personagens da história da televisão no FTV de hoje.

MAD MEN, UMA SÉRIE COLECIONADORA DE PRÊMIOS

A criação de Matthew Weiner não se mostra modesta em momento algum. Se algumas séries de televisão têm seus episódios piloto baseados em orçamento baixo, Mad Men nos entrega o oposto. Já na primeira temporada podemos notar o quão ambiciosa a produção é, com impecáveis ambientações e decor, glamurosos e autênticos figurinos, deslumbrantes maquiagens e uma fotografia de encher os olhos de qualquer amante da arte. E o roteiro não fica para trás. Ambientada nas caóticas agências de publicidade da Madison Avenue em New York, a trama explora o cotidiano dos funcionários e investidores da Sterling Cooper, mais uma das muitas empresas publicitárias que residiam na famosa avenida. A ambição da série é notável quando você entende que se trata de um drama ambientado na década de 1960 onde os Mad Men (agentes publicitarios da Madison Avenue), eram quase como rockstars. A série, que foi ao ar entre 2007 e 2015, nos levou por uma jornada de exatamente uma década, pelos governos de Kennedy, Johnson e Nixon, pelo conservadorismo sessentista chegando ao Summer of Love do início da década de 1970, onde oficialmente nos despedimos dos personagens. A agridoce despedida tem como trilha sonora o famoso (e verdadeiro) comercial da Coca-ColaI’d Like to Buy the World a Coke” (1971), que ganha um novo significado ao ser criado pelo anti-herói fictício Don Draper, o protagonista da série.

E como mencionado anteriormente, a criação da mente de Matthew Weiner tomou forma perfeitamente quando se pensa em arquitetura da época, decoração de casas e escritórios com os mais high fashion móveis, quadros de pintores espetaculares como Rothko e objetos que te transportam direto para uma era que você talvez não tenha vivido e mesmo assim sente-se nostálgico quando vê ganhando vida na tela da sua televisão de LED. Máquinas de escrever de todas as cores, telefones acoplados à paredes decoradas com papel florido, câmeras fotográficas analógicas. Mad Men foi revolucionária quando se fala em qualidade de produção e fotografia. Os takes, por exemplo, eram feitos apenas no estilo de filmagem traveling (câmeras que se movimentam por trilhos), e o cenário foi construído especificamente para abrigar perfeitamente esse tipo de filmagem. O criador, Matthew Weiner juntamente com os diretores de fotografia e arte da série, Phil Abraham e Dan Bishop acreditavam que essa seria a maneira mais fiel de incorporar a época em que se passava a trama. Além disso, muitas das cenas (especialmente as que se passavam dentro do escritório da Sterling Cooper), eram filmadas abaixo da linha do olhar, para que o teto cenográfico coubesse no enquadramento. O propósito da técnica era refletir a arquitetura, a fotografia e o senso estético daquele período da história.

DE MEGAN CALVET À MEGAN DRAPER

Megan Calvet é uma modelo e aspirante à atriz quando é contratada pela Sterling Cooper (na época já renomeada SCDP – Sterling Cooper Draper Pryce) para o cargo de secretária. Estamos na metade da década de 60, e Megan exibe um visual típico feminino da época, como coques altos encharcados de laque, salto alto, camisas combinadas com saias mid lenght, pérolas, batons em tons de coral e bochechas rosadas de blush. Fora do horário de trabalho, vemos que Megan, ainda que adepta das tendências de moda da época, também é uma mulher moderna em comparação com as outras personagens femininas da série. Megan usa calças, coletes, estampa xadrez, cabelo solto, mini saia, maxi sunglasses, botas de cano alto, lenços estampados, cabelo chanel, e apesar da elegância que exala, também mostra-se mais descontraída do que quando está em office hours. Megan é o que chamamos de uma verdadeira Cool Girl, que ao mesmo tempo que tem os maneirismos de uma dama, fala francês e é modelo, também é uma tomboy que gosta de experimentar coisas novas, sair à noite pra curtir, andar descalça, dançar livremente, viajar, e aprender cada vez mais elementos que agreguem à sua carreira. Megan não faz o tipo housewife que era tão comum naquela década, não cozinhava, não esperava ser sustentada por um marido, além de amar andar com pessoas do meio artístico, como os hipsters e beatniks. Megan não demonstrava pré-julgamentos em relação à nada novo que aparecia em seu caminho.

Conforme seu tempo na SCDP vai se alongando, Megan vai se desinteressando no trabalho de secretária e passa a demonstrar interesse em aprender o que Don Draper e seus companheiros de trabalho fazem, e pede à Don que a deixe observar os bastidores da magia da publicidade nos (muitos) momentos em que ele ficava no escritório trabalhando até a madrugada. Em paralelo à esse fascínio que a personagem começa a despertar em nós expectadores, Megan também desperta o fascínio de Joyce Ramsay, uma fotógrafa da renomada revista Life. O caminho das duas se cruza já que Joyce trabalha no mesmo edifício que a agência de publicidade que nós acompanhamos diariamente, e também frequenta a mesma por ter uma amizade com a personagem de Elizabeth Moss, a querida do público, Peggy Olsen. Megan, como uma verdadeira Cool Girl, adora se juntar à uma entourage de artistas, e também passa a chamar cada vez mais atenção na empresa quando, durante uma pesquisa sobre beleza oferecida por uma marca de cosméticos cliente da SCDP, revela alguns de seus simples segredos de beleza e cuidado com a pele. Como ela mesma diz, ela sabe das coisas porque é de origem francesa.

E por ter uma beleza fora do comum, um estilo impecável, uma doçura na forma de se comunicar, uma gentileza fácil com crianças, uma sede de aprendizado e muito bom humor, Megan Calvet passa a deixar todos os homens e mulheres do escritório encantados. Mas aqui o nosso foco é falar do homem que ouviu o canto de sereia de Megan e foi arrebatado imediatamente, Don Draper. O nosso protagonista demonstra desde o início da série, características evidentes de um anti-herói (talvez porque o criador da série, Matthew Weiner anteriormente atuou como produtor de uma série que criou o modelo de protagonista antagônico, The Sopranos). Don é casado, tem dois filhos com sua esposa e uma casa de cerca branca no subúrbio, bem distante da sua vida de Mad Men na caótica New York. A distância que ele cria entre a sua vida familiar e o resto de sua vida (íntima, pessoal e profissional) permite que Don tenha a liberdade de começar e terminar inúmeros affairs com os mais diferentes tipos de mulheres. Mas de todas as mulheres que cruzam suas jornadas com as de Don, apenas uma o fascinou o suficiente para que ele se divorciasse da primeira esposa e rapidamente pedisse a mão da segunda em casamento. Essa mulher foi Megan Calvet, ou melhor, Megan Draper, como passou a ser chamada após casar-se com Don.

De todos os modelos de mulheres com quem Don escolhia se relacionar romanticamente, nós sabemos que as que mais eram objeto de seu desejo e paixão eram as morenas. Mais especificamente, as morenas que carregavam uma extensa bagagem de segredos, inseguranças, mistérios e problemas. Essas eram as verdadeiras mulheres da vida de Don, quando se para para refletir sobre a relevância de cada uma de suas amantes, amigas, e até sua própria mãe por quem ele tinha um fascínio escondido, já que era uma jovem prostituta que morreu ao dar a luz à ele. Por alguma razão, Megan não se encaixava nem no perfil da morena melancólica e nem no perfil da primeira esposa de Don, Betty Draper, que era uma mulher conservadora, recatada, preconceituosa, e muito, mas muito loira. Megan Draper era sim uma mulher de cabelos escuros mas não carregava nada de tristeza e insegurança consigo, pelo contrário, era uma mulher ativa, trabalhadora, descontraída, divertida, espontânea, care free. Megan era a antítese de Betty e foi isso que atraiu a atenção de Don, que passou a viver de forma menos penosa quando Megan entrou em sua vida. Don e Megan Draper formaram um verdadeiro power couple, trabalhando juntos na SCDP (com Megan recebendo uma promoção à copy writer), viajando, oferecendo festas em sua charmosa e moderna cobertura.

UMA ESTRELA EM ASCENSÃO EM UMA LUXUOSA COBERTURA EM NYC

Em contrate com os ternos sóbrios de Don durante toda a série, Megan está sempre atenta às recém chegadas tendências de moda, de maquiagem e de comportamento. Ela sabe como dar uma festa, como fumar maconha, como usar e abusar de makes coloridas, micro vestidos e apliques de cabelo. Ao casar-se com Don, a modelo vai na contramão do que era comum na época, e passa a vestir-se cada vez mais glamurosa e sensualmente. Megan Draper não era uma mulher com medo de se arriscar, de passar vergonha, e de ser quem ela era. Estava sempre usando belas joias, estampas longe do minimalismo, e exibindo outfits em cores vibrantes (como ela).

E quanto mais adentrava o mundo luxuoso do marido, e mais se aproximava do sucesso na carreira de atriz, Megan ia ousando cada vez mais nas escolhas de looks, lingeries, e penteados de cabelo. Megan Draper estava trilhando um caminho muito conhecido para os amantes de moda (e de Hollywood), a jornada da It Girl. Como estava sempre à frente de seu tempo, farreava ao lado de outros artistas, estrelava em comerciais de televisão e novelas de drama, morava em uma cobertura luxuosa que ficava em meio ao caos de New York e não carregava consigo o pudor exagerado das conservadoras mulheres norte-americanas (Megan era filha de franceses e nasceu em Montreal, no Canadá), o distintivo de It Girl vinha com facilidade para ela. Ela sabia o que estava em alta, sabia o que vestir para qualquer situação e adentrava cada vez mais o estilo de vida hollywoodiano.

A POLÊMICA CAMISETA DE ESTRELA E AS TEORIAS DA CONSPIRAÇÃO

Quando adentramos, junto aos personagens da série, o ano de 1968, começamos a notar uma tensão no ar que parece se espalhar por todo o país. Após observarmos os assassinatos de John e Bob Kennedy ao longo da série, o aumento de violência nas ruas e metrôs de New York, as rebeliões e protestos que cresciam a cada dia mais, e então o estopim, o assassinato do líder do movimento dos direitos civis, Martin Luther King Jr, passamos a observar os personagens lentamente entrando em um estado de histeria. Megan demonstra preocupação com o aumento do barulho de sirenes que chega até a cobertura dos Draper todas as noites, e o apartamento do casal até mesmo é invadido em outro momento. E para os espectadores especialistas em bastidores sombrios de Hollywood, a tensão também ia aumentando a cada episódio, já que um chocante e horrível episódio na história estadunidense estava próximo de acontecer. O caso da qual estamos falando é o episódio dos assasinatos Tate-Labianca, que apesar de ocorrerem na California, assombraram os EUA por completo (leia mais sobre nesse outro artigo da SXSD).

Para aumentar a preocupação dos fãs de Mad Men, Megan é vista durante 1968 vestindo uma combinação de camiseta branca com uma grande estrela vermelha no centro e uma calcinha branca rendada. A combinação pode passar batido para alguns, mas foi muito bem observada por fãs da série que começaram a postar teorias sobre o figurino em questão no aplicativo Reddit. Acontece que a junção da camiseta estrelada com apenas uma calcinha por baixo foi exatamente o figurino que a atriz Sharon Tate usou em um ensaio fotográfico para a revista Esquire em 1967, em uma tentativa de emular a estrela presente no centro da bandeira do Vietnã. Tate, que era uma jovem atriz em ascensão quando fotografada usando esse look, posou para as fotos dois anos antes de ser brutalmente assassinada por membros de uma seita (Família Manson) enquanto estava grávida de 8 meses do marido, o cineasta Roman Polanski.

Espectadores do mundo todo passaram a notar as semelhanças entre Sharon Tate e Megan Draper, já que ambas eram jovens atrizes em ascensão, ambas eram cerca de 10 anos mais novas do que seus maridos, e ambas passavam muito tempo sozinhas em casa sem os seus companheiros. Criou-se assim a teoria de que Megan poderia ser uma representação de Sharon no universo de Mad Men, já que a aspirante à atriz começa a fazer sucesso e até mesmo muda-se para a California. Outros menores fatores narrativos da série que remetiam ao crime que aconteceu em Agosto de 1969, também não passaram desapercebidos, como por exemplo, a personagem Peggy acidentalmente esfaqueando seu namorado Abe (resultando em uma imagem similar à estampa da camiseta de Sharon), Sally Draper lendo o livro Rosemary’s Baby (que em 1968 tornou-se um filme, dirigido por ninguém mais ninguém menos do que Roman Polanski), e Megan ter ficado grávida de Don (mais tarde é revelado que ela sofreu um aborto). Na cena em que Megan usa o famoso look, ela está sozinha e vulnerável (o outfit ‘desleixado’ serve como uma representação dessa fragilidade) na varanda de seu apartamento, enquanto reflete sobre dar um ultimato à Don, já que os dois vinham se desentendendo à algum tempo. A solidão feminina ali representada automaticamente nos leva a pensar em Sharon Tate trajando uma camisola e preparando-se para dormir em sua casa na rua Cielo Drive, número 10050 (Los Angeles, California), momentos antes de ser assassinada.

Assim que a cena de Megan foi exibida em rede nacional, a filha do fotógrafo responsável pelo photoshoot de Tate para a Esquire em 67, contatou imediatamente à figurinista de Mad Men, Janie Bryant, via Twitter para perguntar se a camiseta com a estrela vermelha era proposital ou apenas mera coincidência. Bryant foi sucinta em sua resposta, afirmando apenas que não se tratava de uma coincidência. Não muito tempo depois, a atriz Jessica Paré (interprete de Megan na série), também foi questionada sobre a teoria da conspiração durante uma entrevista (coincidência ou não) para a mesma revista Esquire. A atriz revelou apenas que durante conversas com os figurinistas, foi tomada a decisão de colocar Megan em uma camiseta, o que não era nada comum em mulheres na década de 60, para representar a personalidade ‘pra frentex‘ da personagem mas também deixa-la com um ar extremamente casual, de quem está em casa sozinha, vulnerável e à espera do marido para que eles pudessem discutir a relação que estava em frangalhos. Jessica Paré admitiu que ao saírem em busca de uma camiseta para a cena, houve uma pesquisa sobre mulheres da época trajando esse tipo de look, e ao encontrarem a icônica camiseta branca e vermelha em uma loja de fantasias e figurinos, a foto de Sharon Tate vestindo-a estava junto como referência.

Para completar a histeria dos fãs, quando foi revelado o pôster de divulgação da temporada seguinte (que se passa em 1969), podemos observar um sketch de Don vestido todo de preto, andando em direção aos espectadores enquanto segura a mão de uma mulher. Apenas a mão dificulta que possamos identificar a mulher, mas podemos ver pelo braço a manga bufante de seu vestido azul (um dos looks mais icônicos de Megan durante a série). Atrás dessa versão sóbria de Don Draper, podemos ver uma outra versão do protagonista, agora trajando um terno cinza, com sua típica maleta do trabalho em mãos, andando na direção oposta aos telespectadores e direcionando-se à um grupo de policiais no que parece ser uma cena de crime.

A INFLUÊNCIA CALIFORNIANA E O SUMMER OF LOVE

Megan e Don acabam se separando enquanto avançamos às narrativas finais da série. Isso se dá por conta dos diferentes valores e visões de vida que os dois têm. Don é muito reservado, melancólico, assombrado por seu secreto passado, e é um homem conservador. Megan é a antítese, e apesar dessa vibe free spirit da personagem ter sido exatamente o que atraiu Don à ela, ele não conseguiu sustentar a ideia de passar o resto de sua vida com uma mulher tão moderna, que queria viver na California, ir à festas e adentrar cada vez mais a bolha hollywoodiana. E quando Megan Draper volta a ser Megan Calvet e muda-se para a California de vez, podemos observar claramente as influências de Los Angeles e do movimento Flower Power/Hippie em seu figurino. Megan passa a morar rodeada de natureza em um canto montanhoso de L.A, em uma casa simples e moderna em que ela curte muitas festas ao lado dos amigos artistas. E aquela vibe do Summer of Love se espalha pelo ar, contaminando aos telespectadores, e até mesmo chegando a atingir alguns dos personagens na caótica New York.

Megan sempre foi a personagem feminina responsável por trazer às nossas telas a parte hipster e moderna dos jovens de 20 e poucos anos nos EUA. Seu figurino era o mais ousado e menos antiquado em todas as temporadas, porém é especialmente no ensaio fotográfico para a divulgação da última temporada de Mad Men que essa afirmação torna-se mais evidente. A temporada final da série aborda o final dos anos de 69 e o início da década de 70 com a chegada do movimento Hippie, normalização da nudez, festivais de música, drogas psicodélicas criadas em laboratórios e uma mudança drástica no mundo da moda. Como é possível observar nas fotos de divulgação, Megan é a única personagem feminina a vestir-se como uma mulher da década de 70, exibindo uma barriga de fora graças à um conjunto de blusa cropped e calças boca de sino, cabelos longos e rebeldes e sandálias sem salto.

O figurino de Megan a partir de então passa a trazer muitas referências à moda setentista (especialmente a moda Bohemian e Hippie). Anéis coloridos, sandálias rasteirinhas, vestidos longos e soltinhos, estampas florais, cabelos compridos e delicadamente desgrenhados, coletes, maquiagem natural, headbands, belly chains, brincos de argola, esmalte escuro ou preto, batas, e calças flare. E claro, muita barriga de fora, mini dresses e braceletes. E podemos notar pelo pôster de divulgação da última temporada da série, que a jornada para os psicodélicos setentistas já estava planejada e escancarada.

E é com o maravilhoso closet de roupas setentistas que vemos Megan Calvet, ou Megan Draper se preferir, pela última vez ao final da série. Não só o figurino da personagem de Jessica Paré (Megan) e de John Hamm (Don) se destacam, mas sim todo o trabalho da incrível figurinista Jaine Bryant, que soube incorporar as décadas de 60 e 70 como ninguém antes na televisão norte-americana. E muito além da curadoria de roupas vintage, móveis antigamente coloridos, e um trabalho de fotografia impecável, o roteiro de Matthew Weiner merece todos os prêmios que levou para casa. A 7 temporadas de Mad Men te levam por uma jornada repleta de fatos históricos verídicos, guerras, antissemitismo, adultério, crises econômicas, moda, racismo, comportamento, movimentos sociais, homofobia, política, e os bastidores de agências de publicidade, casamentos sem amor, machismo e misoginia escancarados, os efeitos de anos ingerindo álcool e nicotina e o antigo mundo do tabagismo glamuroso. E em meio à isso tudo, Weiner ainda nos leva em uma insana jornada pela vida e os mais sombrios pensamentos de Donald Draper (ou deveríamos chama-lo de Dick Whitman?).

Uma coisa é fato, o figurino e o design de interiores de Mad Men estão fadados à morar em nossas cabeças para sempre, Afinal. como esquecer das luminárias e quadros abstratos pendurados no escritório de Don Draper? Como se esquecer da moda desfilada por Megan, Joan, Betty, Peggy, e todas as outras personagens femininas? Como se esquecer da abertura que traz Donald Draper caindo vertiginosamente em meio à arranha céus feitos de outdoors de propaganda ao som instrumental de A Beautiful Mind? Como não se apaixonar pelas referências diretas à North by Northwest e Vertigo do cineasta Alfred Hitchcock e aos edifícios desenhados por Saul Bass? Como esquecer de uma série que conseguiu o raro feito de receber a permissão dos Beatles para usar a música Tomorrow Never Knows? E Don’t Think Twice It’s Alright de Bob Dylan tocando nos créditos da finale da primeira temporada mora de graça no meu coração e na minha mente. Mas quem realmente rouba a cena na série, é Megan Draper quando debuta na quinta temporada da série, trazendo ares mais modernos, fashionistas, feministas e uma vibe de espírito livre.

Pelas palavras da própria Megan Draper:

My God, you’re so square you’ve got corners.”

(Meu Deus, você é tão quadrado que ganhou quinas)

*Todas as imagens da série e dos cenários e bastidores são de domínio da produtora AMC. Imagem de Sharon Tate é de domínio da revista Esquire, e a capa de revista da atriz Jessica Paré é de domínio da Television New York.

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Hollywood Fashion Cemetery

HOLLYWOOD FASHION CEMETERY – AUDREY HEPBURN

Direto da Broadway ao cinema. Das gigantes telas às capas de revista. De Cover Girl à musa inspiradora de renomados fashion designers. Da fama excessiva de uma garota tímida à reclusão de uma ativista feroz da UNICEF. O legado fashion e artístico de Audrey Hepburn será a jornada do Hollywood Fashion Cemetery de hoje.

O objetivo da nossa caminhada à Memory Lane essa semana será explorar as famosas aparições fashionistas de Audrey mas também jogar luz nas não tão conhecidas (e definitivamente não menos icônicas) fotografias e looks da eterna Bonequinha de Luxo. E claro, nada de repetir o óbvio sobre a tão falada Audrey Hepburn, mas sim trazer as particularidades de sua biografia que não costumam ser tão exibidas por aí quanto seu vídeo cortando a própria franja em frente às câmeras como uma dama.

Quer dizer, talvez você conheça Audrey Hepburn porque, recentemente, o famoso colar de diamante amarelo Tiffany’s & Co. usado por ela em 1961 reapareceu fora dos cofres da famosa joalheira em ninguém mais do que Lady Gaga no Oscar de 2019 (quando concorria por seu trabalho em A Star is Born), Beyoncé em uma campanha da própria Tiffany’s em 2021, e Gal Gadot em seu recente filme Death on the Nile de 2022.

Ou talvez você tenha esbarrado em um quadro, pintura, fotografia ou pôster de Audrey Hepburn como sua personagem Holly Golightly com uma longa cigarreira em mãos, cabelo repleto de laque e vestido preto pendurado no quarto de algum amigo ou amiga. Ou tenha, como todos nós, amado a famosa montagem que coloca a dama Hepburn mostrando o dedo do meio em um photoshoot em que exibe uma cara emburrada.

Mas se você vive na mesma Terra redonda que nós do SXSD, com certeza você, em algum momento, já esbarrou em uma imagem de uma esbelta garota morena vestida dos pés à cabeça de Givenchy, pérolas e enormes óculos escuros observando atentamente à vitrine da joalheria Tiffany & Co. Essa não é Audrey Hepburn, mas sim sua personagem no aclamado filme de 1961, Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo). E a tal personagem em questão, Holly Golightly, tomando café direto de um copo de papel e devorando um croissant para viagem (contrastando essa imagem com o seu figurino glamuroso e maneirismos de uma dama) foi a responsável por colocar Audrey nos livros de História da Moda.

Porém, o distintivo de Fashion Icon que Audrey Hepburn carregava em seu peito tinha raízes muito mais profundas do que a tiara de brilhantes acompanhada da longa cigarreira e do par de luvas pretas na joalheria. O figurino de sua personagem em Breakfast at Tiffany’s oferece um catálogo enorme de looks belíssimos que vão além do LBD (Little Black Dress) desenhado por Hubert de Givenchy. O filme (baseado no livro de mesmo nome escrito pelo lendário Truman Capote) é uma verdadeira exibição do glamour dos anos 60, contrastando o luxo das roupas de grife e as brilhantes tiaras com a mediocridade do apartamento onde Holly mora, e do estilo de vida que leva.

Sim, o figurino de Breakfast at Tiffany’s é deslumbrante e causa fascínio até mesmo nos corações dilacerados dos não amantes da moda. Mas, como dito anteriormente, o legado nada modesto que Audrey Hepburn deixou para o mundo da moda vai muito além das referências da personagem de Truman Capote.

Apesar de exibir um dos rostos mais reconhecidos do mundo e de inspirar milhares (sim, milhares mesmo) de outros artistas, fashion designers, coleções e photoshoots temáticos, Audrey Hepburn é uma atriz com um curriculum menos extenso do que nos parece. A aclamada, e vencedora de estatuetas do Oscar, artista estrelou apenas 16 filmes em toda a sua carreira, além de algumas produções de teatro (onde foi descoberta) e da Broadway (já que possuía uma incrível voz quando cantava). Acontece que a fama e os excessos hollywoodianos não encantavam Audrey, que amava atuar mas nunca almejou nada além de uma feliz (e privada) vida ao lado da família, já que havia tido uma infância tumultuosa em sua motherland, a Bélgica. A estrela fazia questão de atuar no papel de mãe presente na vida de seus 2 filhos muito mais do que fazia questão de vestir-se de grife e fazer compras. Mas vocês sabiam que, ainda assim, ela era a musa de Hubert de Givenchy?

Durante sua breve carreira como atriz de cinema, Audrey estrelou aclamados filmes como Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu), Sabrina, War and Peace (Guerra e Paz), Funny Face (Cinderela em Paris), Charade (Charada), Paris When It Sizzles (Quando Paris Alucina) e My Fair Lady (Minha Querida Dama). No teatro, sua mais aclamada produção foi como a personagem título da peça Gigi. As produções aqui citadas são algumas das mais conhecidas da estrela, não só pelas excelentes opiniões dos críticos, mas também pelo figurino autenticamente atraente das décadas de ouro do cinema hollywoodiano. O wardrobe dessas produções podem até ser menos falado do que o da eterna bonequinha de luxo, mas são tão fascinantes quanto, com araras repletas da elegância dos anos 50 e 60 em Hollywood.

Quando longe das luzes, câmeras profissionais e claquetes, Audrey mantinha seu amor por moda intacto, porém de maneira muito mais minimalista. Quando fotografada em momentos pessoais, retratos em família ou eventos não profissionais seu estilo exibia menos colares de diamantes e mais camisas monocromáticas, chapéus, e maquiagem leve. Os vestidos longos dão lugar às calças, os saltos dão lugar às sapatilhas. Audrey Hepburn era uma amante da moda e é considerada uma das mais influentes Fashion Icons da história, mas o que ela não era? Consumista. De acordo com os filhos e com colegas da atriz, ela conhecia muito bem todos os designers e grifes, mas não comprava uma quantidade exorbitante de roupas e sapatos, muito menos joias. A estrela era uma fashionista consciente, que acreditava em comprar belas e duradouras peças, e apenas quando era necessário, e não como se comprar fosse um esporte. Quando estava em casa, sua combinação ideal de roupas era um par de jeans e uma camisa polo Ralph Lauren.

De acordo com a autora do livro Audrey Style, Pamela Keogh, Audrey Hepburn era a representação da antítese de Marylin Monroe (outra Fashion Icon da mesma era de ouro de Hollywood). Keogh explora o assunto mais profundamente quando explica que Audrey não exibia o mesmo tipo físico das mulheres “Va Va Voom“, com suas curvas, joias e decotes. Pelo contrário, Audrey Hepburn era uma mulher que ia na contramão da considerada ‘moda feminina’, exibindo simplicidade e roupas de linhas mais retas. A contracultura da atriz ia além, já que ela abusava do uso de roupas pretas, em uma época onde mulheres apenas se vestiam da cor quando compareciam à funerais. De acordo com Keogh, o estilo da atriz era uma combinação da moda europeia com a moda bohemian.

E como estava na direção contrária ao que era considerado sexy ou femnino, Audrey não era voluptuosa, exibia os chamados short gamine haircuts (cortes de cabelo num estilo pixie, considerado masculino na época) e estava longe de ser uma influenciadora, já que era extremamente reservada. A estrela acreditava que não deveria expor o que acontecia em sua vida longe das câmeras. De acordo com a autora Pamela KeoghAudrey era uma verdadeira estrela de cinema. Hoje existem muitos Instagrams dedicados à ela. Mas ela não era do tipo de posar para fotos ou forçar seu nome por aí”.

Audrey Hepburn não era uma figura convencional mesmo. Além de seu veado de estimação, outras características da vida pessoal da estrela faziam dela diferente do que era considerado lady like. Amigos e familiares de Audrey afirmam que a artista amava beber Scotch, contar piadas off color (controversas ou vulgares), e estava sempre com um cigarro entre os dedos. A estrela, que exibiu um corpo esbelto do início ao fim de sua vida, não acreditava em dietas (pratica que era romantizada pela sociedade da época, especialmente direcionada ao público feminino). Audrey chegou a ter o seu peso questionado em rede nacional no famoso programa de entrevistas de Barbara Walters. Mas contrariando qualquer expectativa de que a atriz carregava consigo um segredo sujo para manter a magreza, Audrey Hepburn era uma amante da cozinha italiana, e era até mesmo considerada uma “viciada em massas”. O que ela carregava dentro do coração não era o segredo da magreza mas sim uma adoração por comida autêntica, caseira, orgânica e no verdadeiro estilo farm to table (da fazenda à mesa). A artista amava plantar sua própria comida, e preferia passear pelas feiras de produtos orgânicos do que pelas vitrines de lojas haute couture. Durante o tempo que Audrey passava com o marido e os filhos na Itália, costumava plantar e cozinhar muito, o que fez com que, em 2015, seu filho Luca Dotti publicasse o livro “Audrey Mia Madre“, que em inglês ficou “Audrey at Home: Memories of my Mother’s Kitchen

Mas quando tratava-se de um photoshoot, Audrey abraçava o glamour que a moda pode trazer consigo. Posou para fotógrafos renomados, vestiu designs originais das maiores grifes, e foi capa de inúmeras revistas de moda, cultura, cinema e até arquitetura. Audrey Hepburn não desejava influenciar ninguém, mas sua cativante energia e estilo fashionista fascinavam o mundo todo, indo muito além de Hollywood. Era a combinação do luxo e da simplicidade, da cidade e da natureza, das joias mas do amor à flora e a fauna, que traziam um encanto especificamente fascinante à Audrey e a transformavam em uma It Girl. Em uma recente entrevista de seu filho mais novo, Luca Dotti, ele conta que a atriz não tinha hábitos luxuosos, e que, no tempo em que moraram em Roma (Itália), o que Audrey mais gostava de fazer era deitar-se no sofá de calças jeans para assistir televisão ou ouvir bossa nova como João Gilberto, Sérgio Mendes e Astrid Gilberto. Mas para não deixar de lado o glamour de Hollywood, Audrey e seu marido Andrea Dotti também costumavam oferecer jantares caseiros em sua residência na Itália, e entre os convidados temos nomes como a atriz Julie Andrews e a cantora Diana Ross. Outro convidado recorrente na mesa e no jardim do casal era o estilista Valentino, amigo íntimo de Audrey, e para ele, ela costumava fazer um prato especial, macarrão ao pesto de manjericão, nozes e iogurte. A atriz e bailarina, como uma verdadeira europeia, dominava línguas como francês (sua língua materna), inglês, italiano, alemão, holandês, e espanhol.

Além de It Girl, podemos dizer que Audrey foi uma das pioneiras do termo Cover Girl, já que todas as mídias físicas expostas nas bancas de jornais da década de 50 até as edições digitais de revistas atuais, trazem a estrela na capa. Seu fashion appeal ultrapassava barreiras continentais, e Audrey Hepburn era fotografada para ensaios de revistas no mundo todo, de norte à sul, e tornou-se parte fundamental para o funcionamento de revistas como Vogue, Harper’s Bazaar, Vanity Fair e até a renomada revista de fotografia, a Life. Inclusive, em um artigo da Vogue UK em 2021, foi feito um levantamento de quais seriam as peças de roupa e acessórios que ficaram marcados por Audrey Hepburn. Alguns dos escolhidos foram: calças xadrez, LBD (Little Black Dress), sapatilhas de bailarina, calças jeans e camisa branca oversized.

Quando fazia aparições em eventos ou Red Carpets, Audrey não falhava em entregar elegância, fazendo de suas raras aparições um verdadeiro fashion show. Diferente do título de antítese do feminino, que lhe foi dado nos anos 50, Audrey era sexy, elegante, e uma verdadeira cool girl. Não tinha receio de ser quem realmente era e nem carregava consigo o medo de envelhecer, já que não relacionava o processo de envelhecimento com perda de valor ou perda de beleza. Audrey continuou, até o fim de sua vida, dedicando-se a ser autêntica e vestir o que a fascinasse naquele dado momento. As roupas e o comportamento que exibiu em eventos hollywoodianos foram icônicos do início ao fim. Sem botox, fillers, closets de roupa king size ou cirurgias plásticas, Audrey Hepburn seguiu sendo uma cool girl e uma fashionista. Nas palavras de Keogh “Ela era quem ela era […] E é por isso que ela era uma lenda.”.

Além do título de It Girl e de Fashionista, da conhecida carreira no cinema e no teatro, Audrey Hepburn era uma filantropa e ativista dos direitos humanos, e dedicou-se ao trabalho voluntário na UNICEF até o fim dos seus dias. Sua carreira artística e sua enorme dedicação às causas sociais ao redor do mundo já podem ser consideradas um belíssimo legado. Mas Audrey deixa também, a sua duradoura influência na moda, na arte e nos figurinos de filmes, séries de televisão, e ensaios fotográficos, como presente para nós, sendo frequentemente referenciada por outros artistas e figuras de Hollywood.

Mesmo sem intenção, a atriz, bailarina, cantora e humanitária foi pioneira no conceito de influencer, e nós temos muito a agradecer a estrela por sua contribuição legendária para a arte e por sua positiva influência no mundo. De acordo com o filho mais novo da estrela, Luca Dotti, em entrevista para Fernanda Massarotto do jornal O Globo, em 2015:

“Certa vez, mamãe estava em Los Angeles com Connie Wald, sua amiga. Elas foram juntas para a Tiffany’s retirar um anel que mamãe havia deixado para consertar. A vendedora lhe perguntou: ‘Tem um documento, senhora?’. Ao que mamãe respondeu sorrindo, numa brincadeira: ‘Tenho sim. O meu rosto.'”

E, como complemento à história contada por Luca, deixamos as palavras da redatora Christina Danuta:

“Na Tiffany’s? Francamente.”

Rest in Power, Audrey Kathleen Hepburn-Ruston (1929-1993) a Cool Girl original.

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It Girls Atemporais

IT GIRLS ATEMPORAIS – LINDSAY LOHAN

Dos conjuntos de veludo Juicy Couture e Gloss Labial aos Cigarros, Paetês e inúmeras aparições em Night Clubs. Das Birkin Bags da Hèrmes e dos Maxi Sunglasses protegendo seu rosto dos flashes dos Paparazzi ao Batom Vermelho Sangue, Cabelo Vampiresco e looks que parecem ter saído do closet de Marylin Monroe. Essa é a sua linha temporal fashion e biográfica da maior It Girl dos anos ’00s, Lindsay Lohan.

Ela pode ter nascido Lindsay Dee Lohan em meados dos anos 80, mas nós millennials acompanhamos de perto o nascimento de seu alter ego fashionista e rebelde, Lilo no inicio dos anos 2000. E a partir do momento que os ares de Hollywood inundaram os pulmões de Lindsay pela primeira vez, passamos por uma montanha russa fashion e emocional ao seu lado. Lilo foi e sempre será um dos rostos que mais estampou capas de revistas de moda no mundo todo. Deu à luz a muitas das tendências de moda da época, estampou capas de jornais e tabloides perversos que exploravam seu vício em drogas e álcool, criou sua própria marca de Calças Legging, e até mesmo fez parte de listas de looks ‘incríveis’ para uma réu em julgamento (como esquecer da nail art exibindo os escritos “Fuck U” que Lindsay usou no dia de sua condenação?). Sem contar seu protagonismo em filmes icônicos como Mean Girls (Meninas Malvadas), Freaky Friday (Sexta-Feira Muito Louca) e Confessions of a Teenage Drama Queen (Confissões de uma Adolescente em Crise), seus dois álbuns de estúdio lançados, e suas participações como host dos mais bem sucedidos programas televisivos da época, como o SNL (Saturday Night Live) e premiações da MTV. (Sim, Lilo foi uma glamurosa host do SNL muito antes da recente febre regada a Balenciaga de Kim Kardashian).

De pessoa mais flagrada por máquinas fotográficas no mundo à dona de uma ilha paradisíaca na Grécia. Dos fervorosos Night Clubs dos EUA para a reclusão total nos Emirados Árabes Unidos, onde o trabalho de Paparazzi é proibido por lei. Vamos entrar de cabeça e explorar todas as Fashion Eras de Lindsay Lohan.

A ERA ROLE MODEL

Lilo entrou para o time de modelos da Ford Models ainda criança quando posou para mais de 60 campanhas publicitárias e catálogos de moda e teve seu debut em revistas conceituadas como a Vogue e a ELLE Magazine. Mas Lindsay só alcançaria o estrelato como atriz em 1998, quando já era uma pré-adolescente. A produção The Parent Trap (Operação Cupido) deu à luz a uma estrela de cinema extremamente talentosa, que passou a estampar todos os pôsteres de filmes teen da época.

Durante essa Era, Lilo trabalhava exaustivamente como atriz e fazia inúmeras aparições em Red Carpets e eventos repletos de outras celebridades teen da época. Tanto Lindsay quanto qualquer outra It Girl teen em formação representavam o papel de garotas modelo, magras, sorridentes, com maquiagem leve e roupas que estavam em alta no momento. Lilo deveria representar um modelo a ser seguido por todas as jovens garotas norte-americanas.

Durante esse período, Lindsay usava seu cabelo naturalmente ruivo apenas mudando os tons, escondia ao máximo suas sardas no rosto (tarefa difícil), e servia muita moda Y2K com calças jeans de cintura baixa, coletes, gloss labial incolor, conjuntos de veludo Juicy Couture e vestidos românticos repletos de babados ou estampas florais.

Foi durante essa época, também, que Lilo passou a bronzear bastante a sua pele e, aos poucos, ousar mais nos looks de Red Carpets e eventos. Seu cabelo ruivo foi escurecendo de ‘Ginger‘ para ‘Red‘, e Lindsay estampava inúmeras capas de revistas, das teen às de high fashion.

E se o cabelo vermelho escuro já tornava-se o suficiente para incomodar a mídia e a população conservadora da época, Lindsay passou sofrer ainda vez mais com a sexualização da sua imagem quando trocou o ruivo pelo preto. Suas capas de revista se tornavam cada vez mais sensuais, seus looks em eventos seguiam caminhos chamativos e sua make ficava gradualmente mais dark.

E quanto mais dark ficava a aparência de Lindsay, mais segredos obscuros sobre sua vida pessoal e familiar viravam noticias de tabloides de fofoca (um costume péssimo mas que era muito consumido nos anos ’00s). Sua relação problemática com seus pais, sua vida amorosa, sua amizade com outras celebridades consideradas ‘fora de controle’ ou ‘rebeldes’ e o seu crescente gosto por baladas e festas eram motivo de sensacionalismo. Foi então que Lilo entrou na que seria sua próxima, e talvez mais lembrada, Era Fashion: A Era Party Girl.

A ERA PARTY GIRL

Durante alguns anos, Lindsay Lohan era o nome mais citado quando se falava tanto de moda quanto de escândalos em portas de baladas. Seu vício em drogas e álcool tornou-se de conhecimento público, suas amizades com outras celebridades femininas eram terminadas drasticamente por uma mídia sedenta por rivalidade feminina e sua ética de trabalho impecável se tornava, cada vez mais, um pecado total. Lindsay passou a ser demitida de projetos por chegar atrasada ou de ressaca constantemente, seu cabelo ia mudando de ruivo fogo para loiro platinado, que logo se transformava em madeixas pretas e num piscar de olhos voltava para o longo laranja avermelhado.

Apesar da turbulenta vida pessoal e profissional, quanto mais rebelde Lilo era considerada pela mídia, mais ela se tornava um Fashion Icon para os jovens daquela geração. Foi durante a Era Party Girl que Lindsay passou a usar e abusar de It Bags (bolsas de grife), casacos de pele, jaquetas de couro, mini shorts, batom nude, botas de cano alto, make de olhos carregada de tons escuros, e claro, vestidos de balada repletos de paetês. Lilo foi uma das pioneiras no uso frequente das famosas Birkin Bags da grife Hèrmes, desejadas por sua raridade e preços exorbitantes até hoje.

Seu cabelo estava sempre devidamente bagunçado, seu guarda-roupas estava mais colorido e ousado, e Lindsay era flagrada pelos flashes dos Paparazzi diariamente. Na maioria das fotos dessa era, Lilo ou está de ressaca carregando enormes copos de café do Starbucks e pacotes coloridos de cigarros, ou está saindo de Night Clubs acompanhada das mais icônicas celebridades do momento.

Lilo e sua Entourage de Party Girls, como Paris e Nicky Hilton, Britney Spears, Nicole Ritchie, Mischa Barton, Kim e Kourtney Kardashian, Ashlee Simpson, etc eram constantemente assediadas pelos fotógrafos e massacradas de forma cruel nos tabloides. Apesar das polêmicas e da recente fama de ‘Bad Girl‘, os jovens não conseguiam tirar os olhos de Lindsay, que estampava mais capas de revistas de moda do que nunca.

Entre idas e vindas de clínicas de reabilitação, baladas, e até mesmo prisões por dirigir sob efeito de álcool, entorpecentes e até por furtar joias, Lilo levava um lifestyle glamuroso. Além de estrelar diversos photoshoots e estampar constantemente revistas renomadas e billboards, Lindsay passou a morar em um dos mais famosos hotéis de Los Angeles (California, EUA), o lendário Chateau Marmont.

Lindsay morou por alguns meses numa suíte do Chateau Marmont, que além de cobrar muito caro por suas diárias, ainda oferece uma rara discrição em relação aos moradores e frequentadores, que geralmente, são justamente celebridades querendo se afastar dos holofotes ou fazer o que bem entenderem em completo sigilo. Porém, Lilo foi uma das poucas celebridades hospedadas no hotel que não recebeu o direito valioso da privacidade, já que ela nunca pagou as contas de suas diárias por lá, gerando uma dívida de mais de $50k que foi divulgada para a imprensa. Além de tudo, Lindsay se junta ao singelo clube dos artistas banidos para sempre do Chateau Marmont. Mas nada disso impediu que Lilo vivesse por meses rodeada do glamour do hotel, realizando até um épico photoshoot bem estilo Ressaca Chic todo fotografado em sua suíte no lendário hotel, mantendo aceso, assim, o fogo do reinado de Lindsay como a It Girl do momento.

Apesar dos problemas de saúde mental que a atormentavam, da uma hora e alguns minutos que passou na cadeia, da sentença de oito anos em liberdade condicional, de uma tornozeleira eletrônica que media o nível de álcool de seu corpo, de sua confissão à revista Vanity Fair de que era uma viciada em tratamento e que sofria de bulimia (transtorno alimentar grave), e de ser hospitalizada em mais de uma ocasião por exaustão, Lindsay Lohan não era liberada um dia sequer dos flashes das câmeras fotográficas, que amavam tanto vê-la como um ícone fasion como amavam ainda mais vê-la como uma estrela em decadência. Lilo foi uma das artistas que mais conheceu o lado perverso dos bastidores de Hollywood.

Lilo então tirou uma folga dos holofotes quando retornou, em uma das diversas vezes, ao centro de reabilitação. Em seu esperado comeback à Hollywood, Lindsay anunciou que estava em um relacionamento com a amiga e DJ Samantha Ronson, e apesar das críticas de uma mídia jornalística homofóbica, o casal era extremamente popular na cena noturna de Los Angeles (California, EUA), com a carreira de Ronson decolando, e o casal sendo convidado à festas, eventos e até primeiras fileiras de desfiles de moda. Lilo estava radiante, e entregando moda e tendências como nunca, apesar de não estar trabalhando mais como atriz ou cantora.

Mas se as fotos tiradas pelos incansáveis Paparazzi e os photoshoots para as mais relevantes revistas mostravam um glamour extremamente cativante para o público que a nomeou uma It Girl, o que realmente gerava buzz eram as fotos tiradas com as, hoje quase extintas, máquinas digitais de Lindsay e seus amigos. As fotos entregavam o que era considerado conceito, mas também geravam preocupação com a saúde de Lilo por parte dos fãs. E do lado oposto ao zelo dos amantes da It Girl, existia uma mídia louca para ter em mãos essas fotos para que pudessem ‘comprovar’ cada vez mais o tamanho da queda de Lindsay Lohan de seu trono no topo do Hollywood Sign.

O buzz que as fotos geravam toda vez que era vazadas nos primórdios da internet ou em algum blog de fofoca sensacionalista não eram só negativos. Desde os anos 1990’s, com o nascimento de estilos como o Grunge, o Heroin Chic e mais tarde nos anos 2010’s o Indie Sleaze, existia uma glamurização dos cabelos bagunçados e sujos, do abuso de drogas e álcool, e da magreza extrema. Tudo isso era constantemente acompanhado de looks fashionistas, maquiagens borradas pela ressaca da noite anterior e muitas, mas muitas, fotos exibindo cigarros, garrafas de bebida, e quartos de hotel destruídos. A queda da saúde física e mental de Lindsay era brutal, mas quase ninguém enxergava já que pareciam estar ocupados demais olhando para seus looks marcantes ou apontando seus dedos para as mais recentes polêmicas da atriz.

Essa era fashion de Lindsay também foi marcada por mini saias, vestidos de tubinho, maxi bolsas, e claro, o acessório controverso que sempre era flagrado em suas mãos, o cigarro. A banalização, ou pior, a romantização do Ressaca Fashion hoje é vista com maus olhos, e com razão. Mas chegou a hora de abordarmos outra era fashion de Lilo: A Era Vintage Romantic.

A ERA VINTAGE ROMANTIC

É claro que quando pensamos em Fashion Icons atemporais pensamos quase que instintivamente no nome Marylin Monroe. Mas para Lindsay Lohan, Marylin era mais do que apenas um ícone da moda, ela era sua maior inspiração. Assim começou uma era fashion marcada por muito batom vermelho, cabelos platinados, vestidos de poá, renda, cetim e looks monocromáticos em tons pasteis. E claro, marcada também por muita sensualidade. Outro Fashion Icon vintage que Lilo encarnou nessa era foi a fabulosa, Elizabeth Taylor (inclusive a interpretando no longa Liz & Dick, de 2012).

Essa era, apesar de extremamente marcante e muito elegante, não durou por muito tempo, já que Lindsay aproveitou de sua sobriedade, e do veredito do Tribunal que a condenou à oito anos em liberdade condicional por diversos crimes (além do período de serviço comunitário obrigatório) para focar em poucos projetos, todos low profile, antes de adentrar na sua próxima, e atual era.

A ERA WORKAHOLIC BITCH

Adentramos então a atual era fashion de Lindsay Lohan, a Era que nós do SXSD batizamos carinhosamente de Workaholic Bitch (mas Boss Bitch também cairia como uma luva). Após atingir a sobriedade e mudar-se para Dubai (Emirados Árabes Unidos) onde a profissão de Paparazzi é proibida por lei, Lilo passou a viver uma vida mais tranquila, sendo raramente flagrada em fotos, e quando era, estava à passeio pela Europa. E sua crescente conexão com o continente europeu foi o que levou Lindsay a entrar de cabeça no mundo do empreendedorismo.

Lilo passou a usar looks mais sóbrios, repletos de blazers, botas, sobretudos, e claro sem deixar de lado o seus acessórios favoritos: os maxi sunglasses. Lindsay servia essa nova era fashionista junto com seus novos empreendimentos: dois Beach Clubs na Grécia, além de um um reality show sobre sua rotina de empreendedora workaholic na MTV. O cabelo ruivo natural fez um comeback duradouro, e o closet da atriz voltou a ser recheado de grifes, roupas de alta costura, casacos de pele, chapéus, e até uma moderna e repaginada adesão aos paetês.

Nossa It Girl favorita está aos poucos retornando aos holofotes, sendo contratada para projetos de gigantes plataformas de streaming, voltando a pertencer às primeiras fileiras de renomados Fashion Shows, e sendo convidada para eventos hollywoodianos.

E a nossa Cover Girl também voltou a estampar as mais icônicas capas de revistas de moda, cultura e arte.

Para nós do SXSD, Lilo sempre será um dos maiores Fashion Icons que já existiu, e mesmo que não seja mais considerada uma It Girl para as gerações mais novas, ela será eterna na história da moda, pois já deixou, e ainda deixa, sua marca onde passa, sejam eventos, baladas, capas de revista, e até mesmo espelhos em suas fotos tiradas com celular (sim, também sentiremos falta da Lindsay com uma máquina digital ou um flip phone em mãos).

R.I.P câmeras digitais, flip phones e o clássico blackberry de Lindsay Lohan. Nós do SXSD sentiremos saudades desses acessórios nas mãos da atriz. Mas definitivamente preferimos vê-la em uma era estável, feliz e sóbria, mesmo que com um smartphone moderno em frente à um espelho.

Vida longa, saudável e fashionista à Lindsay Lohan. E vida longa à todas as It Girls Atemporais.

Lilo, seja bem-vinda à sua Era Instagirl.

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Você Já Ouviu Falar?

VOCÊ JÁ OUVIU FALAR? – A ORIGEM DO NOME SEXY SADIE

De onde veio o nome que encabeça a nossa comunidade? Como se conecta com a Cultura, a Música e Hollywood?

Para saber mais sobre, vamos voltar no tempo direto para o final dos anos 60 e embarcar numa grande mistura de Moda, Rock’n’Roll, Movimento Hippie , os Beatles, Gurus Espirituais de Celebridades e os Beach Boys.

ORIGEM DO NOME, ROCK’N’ROLL E FALSOS MESSIAS

Após uma decepcionante viagem em grupo à Índia, nosso quarteto favorito de músicos, os Beatles, voltaram para casa enjoados da psicodelia de seus álbuns anteriores, e definitivamente enojados com o comportamento do, até então Guru Espiritual da banda, Maharishi Mahesh Yogi (1917-2008). Como uma espécie de rebeldia ao contrário, John Lennon (1940-1980), George Harrison (1943-2001), Paul Mccartney e Ringo Starr deixaram de lado o uso de entorpecentes psicodélicos e de sons experimentais para retornar com um trunfo mais sóbrio porém certeiro nas mangas como resultado: o aclamado (e quase mítico, por sua raridade) disco The White Album (ou conhecido por muitos de nós como O Álbum Branco).

O disco, que é duplo, conta com diversas críticas à sociedade da época e oferece as sonoridades mais diversas misturadas pelo grupo em um só álbum até então. Mas aqui queremos focar na faixa de número 05 do lado B do álbum: a música Sexy Sadie. A faixa veio como uma crítica de John Lennon ao tal Guru Espiritual Maharishi Mahesh Yogi, que foi, de forma sutil e velada, classificado como um charlatão pelos Beatles. Apesar da crítica, o disfarce dela é vender a música com uma protagonista feminina, a tal Sexy Sadie, que é um ícone, uma tendência que todos do mundo querem passar a seguir. A letra conta pouco sobre a misteriosa mulher, mas deixa claro que todos querem se sentar na mesa com ela, mas na verdade, ela é uma farsa.

CONTROVÉRSIAS, MODA E O SUMMER OF LOVE

Mas como todo bom disco, existe também uma controvérsia causada pelo mesmo. E essa foi uma das maiores do mundo da música. Em 1968, saindo em grande parte da Abbey Road Studios na Inglaterra e chegando direto ao topo das paradas nos Estados Unidos e no mundo, as faixas do The White Album chegaram às mãos de outro Guru Espiritual charlatão (este desconhecido pela banda até então), um homem chamado Charles Manson* (nascido Charles Miles Maddox -1934-2017). A ideia de Gurus ou Guias Espirituais, além das recém chegadas tendências de moda Folk, Bohemian e Hippie nas vitrines das lojas, estava em uma crescente no final da década de 60 em Hollywood, com uma população de todas as idades sentindo-se perdida e buscando por respostas, por um novo lifestyle. Assim surgiu o movimento hippie, na época apelidado de Summer of Love (O Verão do Amor), que pregava o fim das guerras e violência, a paz no mundo, o amor livre e o desapego de bens materiais. Além de contar, é claro, com muito Rock Psicodélico, novos entorpecentes alcançando a população jovem estadunidense (como o LSD, por exemplo), e muita, mas muita crítica social e protestos nas ruas de todo o país (e do mundo).

Aproveitando-se do desejo de esperança e da inocência de um público jovem e majoritariamente feminino, Charles Manson criou o seu próprio ‘culto hippie’, conhecido por nós nos dias atuais como Família Manson, onde ele, “Charlie”, como era carinhosamente chamado, assumia o papel de guru, de um grande guia para as mentes jovens que o cultuavam e o seguiam pelos desertos da California, largando empregos, estudos e bens materiais, fascinados pela ideia de transcender, alcançar o nirvana, e usar e abusar de psicodélicos o verão todo.

Manson não tinha nenhuma mensagem à passar para aqueles jovens, e era uma influência extremamente negativa para eles, além de ser uma figura violenta, egocêntrica e vender uma falsa imagem do mundo. Com a falta de suas próprias palavras, Manson foi ‘tocado’ pelo The White Album assim que o mesmo alcançou as paradas de sucesso, e resolveu então fazer das palavras do quarteto britânico, as suas. E ainda mais grave, encontrar falsos significados por trás de cada faixa dos lados A e B do aclamado disco, delirando que a banda, na verdade, estava falando especificamente com ele por meio de códigos e metáforas. Manson então passou a pregar a sua versão das mensagens dos Beatles, vendendo-se como uma espécie de novo messias.

As faixas do The White Album eram incorporadas o tempo todo na rotina da Família Manson. A faixa que dá nome ao nosso Blog, por exemplo, não escapou da controvérsia e do horror de Charles Manson. Sexy Sadie foi o “novo nome” escolhido por ele para uma de suas mais fiéis seguidoras, a jovem Susan Atkins (1948-2009), que era considerada muito bonita e havia trabalhado como dançarina e stripper previamente em casas noturnas e eventos da igreja satânica (fundada pelo polêmico Anton Lavey) na California dos anos 60. Já a faixa em sequência, Helter Skelter, que originalmente fazia alusão à uma montanha russa na Inglaterra, recebeu um novo e macabro significado na boca de Manson, que usou o nome da faixa como título de uma guerra racial, não existente, entre brancos e negros nos EUA. A tal Helter Skelter deveria terminar com os negros acreditando que saíram vitoriosos, para na verdade, serem ‘derrotados’ pelos membros do culto de Manson (que contava somente com pessoas brancas). Isso aconteceria, segundo Charles Manson, porque assim que a guerra tivesse início, ele e seus seguidores estariam escondidos em uma espécie de abrigo subterrâneo, um oásis que diferia do planeta Terra, já que estando lá, você poderia se transformar no ser mítico que desejasse (fadas, elfos, borboletas, etc). E ao sair do esconderijo paradisíaco que ficava situado abaixo das terras desérticas da California, seriam eles os grandes salvadores da pátria.

O resultado dessa falsa narrativa foi uma série de crimes e assassinatos cometidos pelos membros do culto a mando do próprio ‘guru’, como forma de iniciar a tal Helter Skelter (já que a tal nunca se iniciava e os seguidores de Charlie estavam ficando impacientes), assombrando Hollywood, que entre as sete vítimas contava com a atriz em ascensão e esposa do aclamado diretor de cinema Roman Polanski (Rosemary’s Baby, no Brasil O Bebê de Rosemary), Sharon Tate (1943-1969), para sempre. Tate ficou muito conhecida por atuar no filme Valley of the Dolls (O Vale das Bonecas) de 1967 e por outras menores participações em produções hollywoodianas da época. Com as vítimas desse sangrento crime conhecido como Os Assassinatos Tate-Labianca morria também uma parte de Hollywood e toda a idealização do Summer of Love e do movimento Hippie, que passaram a ser marginalizados pela sociedade conservadora da época.

Mesmo com a polêmica que foi gerada (e ainda é) ao redor da frase Helter Skelter, os Beatles não deixaram de tocar a música em shows. Paul Mccartney, em especial, é muito fã da obra e continua tocando-a lindamente em seus shows solo. Afinal, a música é um clássico atemporal e não possui nenhuma mensagem negativa por trás como Manson fez parecer. Esse foi o começo a ressignificação da narrativa.

Paul Mccartney toca Helter Skelter em sua turnê de 2019 ao lado de Steven Tyler, vocalista da banda Aerosmith.

RESSIGNIFICANDO A NARRATIVA, HEADBANDS, LIBERTAÇÃO SEXUAL, FESTIVAIS DE MÚSICA E ESTAMPAS FLORAIS

Porém, vale ressaltar que Charles Manson e seus seguidores não representam o verdadeiro, e lindo, significado do movimento Hippie. Nos dias atuais estamos constantemente rodeados de maravilhosas lembranças das décadas de 60 e 70, como por exemplo, festivais de música icônicos como o Woodstock Music & Art Fair (Bethel, New York, 1969), moda atemporal (estampas florais muito coloridas, headbands, maxi dresses, coroas de flores, botas de cano alto, maxi sunglasses, jaquetas e coletes de franja, mini saias, cabelos milimetricamente repartidos ao meio, mangas bufantes, calças boca de sino, tranças no cabelo, batas bordadas e sobreposições), de libertação sexual e normalização do corpo nu, e claro, de avanços importantes para os direitos humanos e fim da segregação racial. Toda essa contracultura fashion, inovadora, militante pela paz e considerada rebelde ficou conhecida despretensiosamente como movimento Flower Power (Poder das Flores, em livre tradução).

NOSTALGIA ETERNA, SALAS DE CINEMA, STREAMING DE MÚSICA E FASHION SHOWS

Hoje, temos muito a agradecer à contracultura dos anos 60 e 70 e somos fascinados pela nostalgia que a moda, a música e as imagens da época nos trazem. E todo esse Flower Power ainda está vivo nas produções artísticas contemporâneas.

E Charles Manson e seus seguidores? Sugiro que deixemos que caiam no esquecimento cultural, tornando-se, finalmente, tão medíocres para a história quanto sempre foram.

E a nossa interpretação do significado de Sexy Sadie? Ela é o título de charlatanismo que ilustra falsos Gurus e Messias e que ilustra, talvez, a mais sedutora e perversa charlatã da história: a nossa querida Hollywood.

Vida longa ao Summer of Love, ao Flower Power e claro, ao grande Fashion Icon e artista que foi Sharon Tate.

*Charles Manson e seus seguidores (Susan Atkins, Leslie Van Houten, Patrícia Krenwinkel, Charles ‘Tex’ Watson e Bobby Beausoleil) que tiveram participação direta nos assassinatos Tate-Labianca foram todos condenados à prisão perpétua no estado da California no ano de 1971 e seguem encarcerados até os dias atuais.

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