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HOLLYWOOD FASHION CEMETERY – AMY WINEHOUSE

Voz rouca, delineado expressivo, tatuagens Pin Up, batom vermelho, mini shorts, rosa pink, lenços de cabelo e os coques mais altos que a história da Moda e da Música já viram. A jornada do Hollywood Fashion Cemetery de hoje é bela, melancólica, fashionista, autoral e um legado inestimável para a cultura mundial. Vem com a gente conferir como Amy Winehouse expressava sua forte personalidade por meio de seu guarda-roupas ousado.

Amy Jade para os íntimos, e para o público, Amy Winehouse, nos deixou há 11 anos atrás, mas nunca sentimos que nos deixou mesmo. Isso se deve ao legado que a cantora e multi-instrumentista britânica construiu em seus curtos, porém flamejantes, 27 anos de vida. Amy tinha dentro do peito um coração maior que sua caixa torácica, e por isso viveu cada capítulo de sua vida muito, mas muito intensamente. A jovem londrina podia ter uma voz grave, roupas e makes ousadas, e um pack de tatuagens espalhadas pelo corpo, mas por dentro era uma garota simples, inocente, apaixonada pelas pessoas que a rodeavam (sua família, amigos e parceiros amorosos), tímida. Amy nos fazia sentir que qualquer um de nós poderia ser como ela, porque apesar de um talento absolutamente único, sua personalidade era apenas de uma garota sonhadora. Seus dois álbuns de estúdio lançados em vida contavam com músicas cruas, sem enfeites, como se pudéssemos ler o diário pessoal dela (e ela, os nossos). Com temas frequentes como amor, coração partido, idealizações não concretizadas, vícios e escapismos, Amy comunicava de forma nua e crua como era se apaixonar, sofrer, se entorpecer, amar, e para nós, esse é o maior legado deixado pela cantora. Mas além disso, durante seu tempo sob os holofotes, Amy Jade Winehouse entregou looks ousados repletos de sex appeal, de peças vintage, e de muita autenticidade, o que fez com que seu fashion style se tornasse um dos mais famosos e copiados do mundo. Seu inimitável estilo se concretizou mesmo no universo da moda a partir de 2006, refletindo diretamente nas passarelas com grifes como Dior e Chanel canalizando Amy Winehouse em seus desfiles em 2007 e 2008.

Mas sua paixão pelo estilo vintage tem uma conexão direta com o tipo de música que Amy costumava consumir, e também, produzir. A cantora era fascinada por Jazz, e muito fã de cantores como Frank Sinatra e Tony Bennet, nomes que dominavam esse estilo de música nas décadas de 40 e 50. E sabem o que mais dominava a cultura nessas mesmas décadas? As modelos pin up. Eram chamadas assim as modelos voluptuosas, sensuais, que posavam para propagandas de revista, outdoors, linhas de maquiagem, entre outros. As pin ups eram não só figuras que vendiam sex appeal mas também figuras fashionistas, que inspiraram muito o estilo feminino de se vestir na época, e até hoje influenciam celebridades como Dita Von Teese, Christina Aguilera, Lana Del Rey, Katy Perry, Christina Hendricks e claro, Amy Winehouse herself. Itens como corsets, saltos Mary Jane, decote, hot pants, batom vermelho, delineador marcante, estampa de poá, maiôs e lenços nos cabelos são alguns dos mais conhecidos do estilo pin up. E o diferencial de Amy Winehouse era a mistura perfeita que a cantora conseguia fazer entre penteados e makes vintage com roupas contemporâneas do estilo da época (anos 2000) como mini shorts, regatas coloridas, calças jeans de cintura baixa, vestidos tubinho, entre outros.

Fora dos palcos, Amy também era muito fã de música R&B, sapatilhas de balett, camisas polo e muito, mas muito, devota da cor pink. Algumas dessas influências de moda e música que citamos são muito visíveis já no primeiro álbum da cantora, o aclamado Frank, de 2003. A personalidade forte do disco fez com que Amy e seu estilo particular atingissem a fama rapidamente. Com um título dedicado à Frank Sinatra, e uma identidade visual baseada em uma Amy sorridente cercada de muito rosa pink (nos looks da era, na capa do disco, nos letreiros, etc). Apesar de ser um álbum que fala sobre decepções amorosas, idealizações românticas que nunca se concretizaram e fortes críticas sociais ao povo londrino, esse é um disco que traz, tanto na sonoridade quanto no visual, uma Amy mais feliz.

O coque alto e encharcado de laque, a mecha branca na franja contrastando com os longos cabelos pretos, a mistura de Rock, Pop, Soul, R&B, Jazz e até Ska, fizeram com que Amy se tornasse única. Sua figura era facilmente reconhecida pelos looks sexy que mesclavam uma Amy impecável vinda dos anos 50 com uma Amy despojada e moleca dos anos ’00. E mais reconhecida que sua figura física, somente sua voz rouca e potente. Amy Winehouse tornou-se uma sensação, ultrapassando as barreiras do Reino Unido e ganhando fama mundial. Todos aguardavam ansiosamente pelo próximo projeto musical da cantora. E então veio o seu segundo (e último em vida) álbum de estúdio, o também aclamado pela crítica, Back to Black em 2006. Mas o sucessor de Frank trazia uma vibe mais dark, com muitas músicas sobre coração partido e vício em entorpecentes. A identidade visual e sonora da era Back to Black também se mostrou um pouco mais sóbria, com mais tons de preto e vermelho, uma capa sem Amy sorrindo, e um jazz mais melancólico. Mas foi durante a sua longa era Back to Black (de 2006 até a morte da cantora em 2011), foi quando Amy realmente passou a enxergar o nível de fama que havia atingido. O lado negativo dessa fama é muito conhecido por nós por se tratar de mais um de muitos casos de mulheres assediadas moralmente dentro da bolha de Hollywood, sendo os assediadores a mídia intrusiva, os tabloids sensacionalistas, os Paparazzi incansáveis. Aquela que antes era apenas uma garota britânica com um absurdo talento musical agora não podia colocar os pés na rua sem ser fotografada, não podia cometer erros sem ser julgada, e não podia mais ser dona de sua própria narrativa. A sensibilidade e fragilidade de Amy a levaram à relacionamentos amorosos abusivos e obsessivos, e o coração partido que a cantora carregava por conta de uma relação tóxica com seus pais e marido à levaram a se entorpecer cada vez mais. A cantora viciou-se em álcool e drogas injetáveis para lidar com uma vida da qual ela já não suportava mais. E a cada tropeço de Amy, cada imagem vazada da britânica fazendo uso de drogas, bebendo álcool, ficando inconsciente em festas, baladas, bancos de trás de carros, a jovem de 20 e poucos anos ia se deteriorando cada vez mais e tornava-se uma espécie de piada nos tabloids e programas de televisão. Assim como Hollywood ama uma estrela em ascensão, ela também ama projetar uma queda brutal de seus pertencentes do topo do letreiro até o fim do poço. Mas o lado positivo do alcance que a voz, o estilo e a mensagem de Amy Winehouse carregavam foi o reconhecimento que a cantora recebeu da crítica especializada, e claro, do público. O álbum Back to Black rendeu à ela 5 estatuetas do Grammy, 1 estatueta do Brit Awards e 1 estatueta do MTV Europe Music Awards. As categorias que presentearam Amy com os gramofones dourados foram de Melhor Álbum Pop Vocal, Artista Revelação, Música do Ano, Gravação do Ano, e Melhor Performance Vocal Pop Feminina.

O sucesso estrondoso de Amy lhe rendeu oportunidades que ela nunca havia imaginado para si mesma, como uma apresentação no Grammy de 2008, a gravação de duetos com seu ídolo Tony Bennet, diversas performances nos famosos festivais de música Glastonbury e Lollapalooza, apresentações em diferentes edições do Brit Awards e claro, turnês mundiais. E foi em 2006 que Amy contatou uma conhecida sua, a fashion designer Naomi Parry, e propôs uma parceria fashionista entre as duas. E a partir de então, Parry passou a vestir Amy para todos os eventos, shows e aparições da cantora. No aniversário de 10 anos do álbum Back to Black, em 2016, a própria Naomi Parry escreveu um artigo para a Instyle contando sobre a sua experiência como estilista pessoal do ícone britânico. Em seu depoimento, a designer conta como Amy era cabeça dura, forte e ambiciosa, e como ela tentava reinar dentro de um universo dominado por figuras masculinas. Amy não abaixava a cabeça para nenhum dos homens da indústria e definitivamente não deixava que passassem por cima dela. Naomi Parry comenta que tanto ela quanto Amy tinham uma certa ‘energia masculinana hora de agir, mas na hora de se vestir ambas adoravam elementos muito femininos.

Ela adorava peças apertadas, que ficassem coladas ao corpo, salto alto, cabelo grande, e muito delineador. Um dos últimos projetos que trabalhamos juntas foi a criação de uma linha de vestidos que enfatizavam muito o seu estilo. Eles eram bem vibrantes, bem divertidos, bem curtos…todos inspirados pela turnê Brasileira que ela fez em 2007. Ela amava absolutamente um micro vestido rosa. Ela se sentia muito bem o vestindo. Era perfeito para ela.

A designer também conta, nesse mesmo artigo para a Instyle, que desde que ela conheceu Amy, a cantora já tinha essa paixão por sapatilhas de ballet. Ela costumava usar para tudo, desde andar na rua, até apresentar-se em palcos ao redor do mundo. Amy amava usar salto alto para seus shows, mas depois de uma ou duas músicas se cansava deles, e lá estava Parry no backstage a esperando com uma pilha de sapatilhas de ballet rosa bebê. A estilista revela que Amy usava tanto, mas tanto suas sapatilhas (que tinham que ser especificamente da loja Freed of London) que ela tinha que fazer encomendas de caixas da peça. E como eram muito frágeis, elas estragavam rapidamente e iam parar em uma pilha de ex-sapatilhas, apelidado carinhosamente pela dupla de Ballet Pump Graveyard (Cemitério das Sapatilhas de Balé). Ah, e as sapatilhas deveriam sempre ser de cetim.

E além das claras referências ao estilo pin up das garotas dos anos 50, Amy também incorporava em seu estilo referências fashion das décadas de 60, 80 e 90. Alguns exemplos são os penteados de Brigitte Bardot, o estilo das garotas que andavam com mafiosos e gangsters, a personagem Alabama do filme True Romance (interpretada pela incrível Patricia Arquette em 1993) que é uma prostituta que ao se apaixonar por um homem aficionado por Elvis Presley acaba colocando os dois em uma confusão envolvendo uma maleta repleta de cocaína e muitos, mas muitos mafiosos. Até mesmo o filme Planet Terror (2007), que a cantora assistia obsessivamente era uma inspiração fashion para ela. E sim, esse é o filme em que Rose McGowan têm uma metralhadora no lugar de sua perna direita e mata figuras masculinas de forma sangrenta à la Quentin Tarantino, que ajudou a produzir o longa. E como dito anteriormente pela estilista pessoal de Amy, a cantora adorava vestidos curtinhos e apertados, o que, às vezes, era difícil de encontrar já que Amy era muito magra. Mas Naomi Parry conta que muitos estilistas faziam o micro vestido acontecer para Amy, mencionando grifes como Luella, Betsy Johnson e Dolce & Gabbana. Os vestidinhos costumavam ser decotados, livres de alças, e repletos de cores vibrantes, estampas (floral, xadrez, poá), e paetês. Era o glamour contrastando com uma make mais caseira e desalinhada, transformando Amy Jade em Amy Winehouse, uma artista de estilo único. Em um artigo do jornalista de moda Christian Allaire para a Vogue em 2022, Amy recebeu o título de Eterna Rainha do Estilo Retrô Rockabilly, e seu estilo foi chamado de inimitável.

Entre as muitas influências culturais que Amy e sua estilista citaram como partes fundamentais da construção da persona fashionista Amy Winehouse, também é considerada sua vivência nos bairro de Camden e Southgate em Londres. Os lugares são conhecidos por abrigar os mais diversos tipos de pessoas e estilos como Rockabilly, Punk e Indie, fenômeno que Amy observou de perto desde criança já que era nascida e criada por lá. Outras peças chaves para Amy quando se tratava de moda eram grandes e largos cintos (bem apertados na cintura, dando um aspecto de voluptuosidade e curvas ao seu corpo), pilhas e mais pilhas de lingeries coloridas, brincos de argola dourados e estampas no estilo old school. A fashion designer pessoal da cantora menciona inclusive um cinto específico da marca Arrogant Cat, que Amy não queria tirar por nada nesse mundo. E em relação ao seu estilo fora dos palcos, a britânica gostava da simplicidade de peças contemporâneas como mini shorts, camisas polo, suéteres xadrez, calças jeans e as famosas sapatilhas de ballet feitas de cetim. Ao final de sua vida, Amy já não gostava muito de ter muitas pessoas a rodeando, e não curtia a ideia de carregar ao seu lado toda uma entourage, então ela mesmo passou a escolher seus looks e fazer sua própria make nas turnês e eventos. Naomi Parry revelou à jornalista e redatora Claire Stern em 2016:

Eu não trabalho mais como estilista…Eu trabalhei por um tempo depois (da morte da cantora), mas eu sentia muita falta de trabalhar com Amy. Ela é uma das últimas de sua espécie […] Ela não seguia tendências; ela era apenas ela mesma. Eu penso nela todos os dias“.

Nos dias atuais, Amy Winehouse é lembrada também por seu clássico penteado de coque alto e volumoso, chamado de beehive (colméia), sua versão única do cat-eyeliner (delineado gatinho), LBD (little black dress), sutiãs de cores vibrantes saltando para fora dos vestidos e regatas, pares de shorts cintura alta, flores no cabelo, bandanas, sobreposições, correntes de ouro, saias lápis, skinny jeans e seu famoso piercing acima dos lábios simulando uma delicada pinta. Mas o grande legado de Amy é sua potente voz, que atualmente, é uma das mais facilmente reconhecidas da indústria musical, e as letras de suas músicas, que transbordavam amor, poder e paixão. Sua influência no mundo da moda chegou até mesmo a render uma parceria com a grife britânica Fred Perry. Amy desenhou cerca de 17 peças para a coleção especial, e além de designer de roupas, ela também foi a modelo escolhida para estampar as propagandas e editoriais da marca. Amy contribuiu criativamente desenhando peças como camisas, saias e casacos em um estilo bem clássico atemporal. Sobre essa experiência, a cantora declarou para a edição inglesa da revista Glamour em 2010:

Fiz uma coleção clássica, porque esse é o estilo da marca e o meu é parecido“.

De seu cabelo volumoso às sapatilhas de bailarina, de seus micro vestidos à suas tatuagens old school, de seu delineado preto à mecha branca por descoloração na franja, o estilo eclético e vibrante de Amy Winehouse sempre vai fascinar os amantes de moda. Seu estilo era uma expressão clara de sua personalidade forte e divertida.

Em 2007, Amy Winehouse e seu então marido Blake Fielder-Civil foram fotografados pelo polêmico artista Terry Richardson (acusado de assédio sexual por diversas celebridades). No ensaio, podemos observar um olhar mais cru sobre Amy e sua personalidade moleca e descontraída, contrastando com o visual pin up elegante e sexy e com a maquiagem parecendo impecável nas luzes do estúdio. A cantora é clicada gargalhando, usando dentes de ouro, beijando o marido (que segura uma câmera filmadora, tem como ficar mais anos 2000 do que isso?), mas também é fotografada em poses sensuais, com um ar tímido, intimista, quase romântico. Richardson é um fotógrafo conhecido por clicar celebridades dessa forma íntima e crua, quase sexualizada na maioria das vezes, especialmente mulheres em lingeries. Com certeza é um dos photoshoots que mais captaram a essência de Amy como um todo.

E em 2009, Amy também protagonizou um famoso ensaio de fotos no maior estilo Beachy Mermaid encabeçado pelo fotógrafo Bryan Adams. As fotografias desse ensaio mais tarde serviriam tanto para a capa da edição italiana da revista Vanity Fair, quanto para o aclamado álbum póstumo da cantora “Lioness: Hidden Treasures. O álbum foi lançado alguns meses após a morte de Amy em 2011 e conta com demos nunca ouvidas pelo público antes, covers e novas versões de músicas já conhecidas como uma versão Reggae de Our Day Will Come, um cover em inglês de The Girl From Ipanema (Vinicius de Moraes, Tom Jobim), e um belíssimo dueto com seu ídolo Tony Bennet na faixa Body and Soul. O álbum também foi responsável por apresentar ao mundo a demo do famoso cover que Amy fez da música Valerie. Alguns outros tesouros escondidos no álbum são a parceria de Amy com seu ex-namorado, o rapper Nas na faixa Like Smoke, e a versão original de estúdio da música Wake Up Alone. Toda a curadoria de músicas para o disco foi feita por produtores que trabalhavam com Amy e eram amigos pessoais da cantora, como Mark Ronson e Salaam Remi.

Mas, como já conhecemos a fórmula cruel de Hollywood, Amy não conseguiu cuidar devidamente de seus problemas de saúde física e mental. E sabemos, também, que mais cruel do que a indústria hollywoodiana somente a mídia britânica. Amy sofria de bulimia desde a adolescência, e a devastadora doença misturada com os vícios que a cantora foi desenvolvendo como mecanismo de defesa para lidar com sua relação abusiva com o marido Blake Fielder-Civil, a toxicidade do controle obsessivo de seus pais sobre a sua imagem, e seu transtorno dismórfico corporal (doença que faz com que o paciente enxergue um ou mais defeitos em seu corpo de forma obsessiva) foi fatal. Amy Winehouse carregava consigo um vício em álcool e em drogas entorpecentes como heroína, ecstasy, cocaína e crack. Algumas de suas tentativas de escapismo da realidade eram flagradas por Paparazzi onde quer que ela estivesse, já não existia mais privacidade em sua vida. Qualquer imagem de Amy com um copo de whisky ou vodka em mãos, cigarros entre os dedos, cabelos bagunçados e maquiagem borrada eram imediatamente vazados para tabloids, programas de TV sensacionalistas, sites e blogs de fofoca. A indústria hollywoodiana não tinha interesse em ajudar a cantora a se reabilitar, mas tinha muito interesse em vender reportagens sobre a queda da artista, constantemente expondo todas as suas entradas na rehab, suas chegadas à hospitais por overdoses, e imagens de machucados e arranhões que Amy exibia pelo corpo (resultado de brigas físicas causadas pelo marido agressor). A fraqueza do corpo da cantora era muito grande ao final de sua vida graças ao distúrbio alimentar e o abuso de substâncias tóxicas, e algumas gotas de álcool foram suficiente para que a jovem morresse em 2011 com apenas 27 anos de idade. Esse artigo não tem intenção de abordar a fundo os problemas das quais Amy sofria, e sim, celebrar sua alegria, sua personalidade forte, sua música, seu coração puro, seu estilo fashionista e todo o seu imenso e lindo legado. Mas é importante citar, mesmo que resumidamente, a parte sombria que a sociedade e a indústria de Hollywood tiveram na vida pessoal de Amy Winehouse, afinal, ela era apenas uma jovem garota como muitas de nós que frustrou-se ao não se encaixar em padrões inalcançáveis de beleza, que sofreu por amores não correspondidos, que foi assediada por uma mídia cruel, e abusada por pessoas que ela amava. Infelizmente Amy se foi mas deixou um aprendizado valioso sobre a importância do apoio e tratamento de doenças emocionais. Que nos dias atuais possamos não soltar a mão de nenhuma outra mulher. Mas, que fique claro, o legado que a cantora e musicista deixa para nós é o que deve ser lembrado e celebrado. Muito obrigada por sua influência na música, na moda e na cultura, Amy Jade. E muito obrigada por ter brilhado de forma incandescente como a estrela que era até o fim.

Rest in Power, Amy Jade Winehouse (1983-2011).

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HOLLYWOOD FASHION CEMETERY – AUDREY HEPBURN

Direto da Broadway ao cinema. Das gigantes telas às capas de revista. De Cover Girl à musa inspiradora de renomados fashion designers. Da fama excessiva de uma garota tímida à reclusão de uma ativista feroz da UNICEF. O legado fashion e artístico de Audrey Hepburn será a jornada do Hollywood Fashion Cemetery de hoje.

O objetivo da nossa caminhada à Memory Lane essa semana será explorar as famosas aparições fashionistas de Audrey mas também jogar luz nas não tão conhecidas (e definitivamente não menos icônicas) fotografias e looks da eterna Bonequinha de Luxo. E claro, nada de repetir o óbvio sobre a tão falada Audrey Hepburn, mas sim trazer as particularidades de sua biografia que não costumam ser tão exibidas por aí quanto seu vídeo cortando a própria franja em frente às câmeras como uma dama.

Quer dizer, talvez você conheça Audrey Hepburn porque, recentemente, o famoso colar de diamante amarelo Tiffany’s & Co. usado por ela em 1961 reapareceu fora dos cofres da famosa joalheira em ninguém mais do que Lady Gaga no Oscar de 2019 (quando concorria por seu trabalho em A Star is Born), Beyoncé em uma campanha da própria Tiffany’s em 2021, e Gal Gadot em seu recente filme Death on the Nile de 2022.

Ou talvez você tenha esbarrado em um quadro, pintura, fotografia ou pôster de Audrey Hepburn como sua personagem Holly Golightly com uma longa cigarreira em mãos, cabelo repleto de laque e vestido preto pendurado no quarto de algum amigo ou amiga. Ou tenha, como todos nós, amado a famosa montagem que coloca a dama Hepburn mostrando o dedo do meio em um photoshoot em que exibe uma cara emburrada.

Mas se você vive na mesma Terra redonda que nós do SXSD, com certeza você, em algum momento, já esbarrou em uma imagem de uma esbelta garota morena vestida dos pés à cabeça de Givenchy, pérolas e enormes óculos escuros observando atentamente à vitrine da joalheria Tiffany & Co. Essa não é Audrey Hepburn, mas sim sua personagem no aclamado filme de 1961, Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo). E a tal personagem em questão, Holly Golightly, tomando café direto de um copo de papel e devorando um croissant para viagem (contrastando essa imagem com o seu figurino glamuroso e maneirismos de uma dama) foi a responsável por colocar Audrey nos livros de História da Moda.

Porém, o distintivo de Fashion Icon que Audrey Hepburn carregava em seu peito tinha raízes muito mais profundas do que a tiara de brilhantes acompanhada da longa cigarreira e do par de luvas pretas na joalheria. O figurino de sua personagem em Breakfast at Tiffany’s oferece um catálogo enorme de looks belíssimos que vão além do LBD (Little Black Dress) desenhado por Hubert de Givenchy. O filme (baseado no livro de mesmo nome escrito pelo lendário Truman Capote) é uma verdadeira exibição do glamour dos anos 60, contrastando o luxo das roupas de grife e as brilhantes tiaras com a mediocridade do apartamento onde Holly mora, e do estilo de vida que leva.

Sim, o figurino de Breakfast at Tiffany’s é deslumbrante e causa fascínio até mesmo nos corações dilacerados dos não amantes da moda. Mas, como dito anteriormente, o legado nada modesto que Audrey Hepburn deixou para o mundo da moda vai muito além das referências da personagem de Truman Capote.

Apesar de exibir um dos rostos mais reconhecidos do mundo e de inspirar milhares (sim, milhares mesmo) de outros artistas, fashion designers, coleções e photoshoots temáticos, Audrey Hepburn é uma atriz com um curriculum menos extenso do que nos parece. A aclamada, e vencedora de estatuetas do Oscar, artista estrelou apenas 16 filmes em toda a sua carreira, além de algumas produções de teatro (onde foi descoberta) e da Broadway (já que possuía uma incrível voz quando cantava). Acontece que a fama e os excessos hollywoodianos não encantavam Audrey, que amava atuar mas nunca almejou nada além de uma feliz (e privada) vida ao lado da família, já que havia tido uma infância tumultuosa em sua motherland, a Bélgica. A estrela fazia questão de atuar no papel de mãe presente na vida de seus 2 filhos muito mais do que fazia questão de vestir-se de grife e fazer compras. Mas vocês sabiam que, ainda assim, ela era a musa de Hubert de Givenchy?

Durante sua breve carreira como atriz de cinema, Audrey estrelou aclamados filmes como Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu), Sabrina, War and Peace (Guerra e Paz), Funny Face (Cinderela em Paris), Charade (Charada), Paris When It Sizzles (Quando Paris Alucina) e My Fair Lady (Minha Querida Dama). No teatro, sua mais aclamada produção foi como a personagem título da peça Gigi. As produções aqui citadas são algumas das mais conhecidas da estrela, não só pelas excelentes opiniões dos críticos, mas também pelo figurino autenticamente atraente das décadas de ouro do cinema hollywoodiano. O wardrobe dessas produções podem até ser menos falado do que o da eterna bonequinha de luxo, mas são tão fascinantes quanto, com araras repletas da elegância dos anos 50 e 60 em Hollywood.

Quando longe das luzes, câmeras profissionais e claquetes, Audrey mantinha seu amor por moda intacto, porém de maneira muito mais minimalista. Quando fotografada em momentos pessoais, retratos em família ou eventos não profissionais seu estilo exibia menos colares de diamantes e mais camisas monocromáticas, chapéus, e maquiagem leve. Os vestidos longos dão lugar às calças, os saltos dão lugar às sapatilhas. Audrey Hepburn era uma amante da moda e é considerada uma das mais influentes Fashion Icons da história, mas o que ela não era? Consumista. De acordo com os filhos e com colegas da atriz, ela conhecia muito bem todos os designers e grifes, mas não comprava uma quantidade exorbitante de roupas e sapatos, muito menos joias. A estrela era uma fashionista consciente, que acreditava em comprar belas e duradouras peças, e apenas quando era necessário, e não como se comprar fosse um esporte. Quando estava em casa, sua combinação ideal de roupas era um par de jeans e uma camisa polo Ralph Lauren.

De acordo com a autora do livro Audrey Style, Pamela Keogh, Audrey Hepburn era a representação da antítese de Marylin Monroe (outra Fashion Icon da mesma era de ouro de Hollywood). Keogh explora o assunto mais profundamente quando explica que Audrey não exibia o mesmo tipo físico das mulheres “Va Va Voom“, com suas curvas, joias e decotes. Pelo contrário, Audrey Hepburn era uma mulher que ia na contramão da considerada ‘moda feminina’, exibindo simplicidade e roupas de linhas mais retas. A contracultura da atriz ia além, já que ela abusava do uso de roupas pretas, em uma época onde mulheres apenas se vestiam da cor quando compareciam à funerais. De acordo com Keogh, o estilo da atriz era uma combinação da moda europeia com a moda bohemian.

E como estava na direção contrária ao que era considerado sexy ou femnino, Audrey não era voluptuosa, exibia os chamados short gamine haircuts (cortes de cabelo num estilo pixie, considerado masculino na época) e estava longe de ser uma influenciadora, já que era extremamente reservada. A estrela acreditava que não deveria expor o que acontecia em sua vida longe das câmeras. De acordo com a autora Pamela KeoghAudrey era uma verdadeira estrela de cinema. Hoje existem muitos Instagrams dedicados à ela. Mas ela não era do tipo de posar para fotos ou forçar seu nome por aí”.

Audrey Hepburn não era uma figura convencional mesmo. Além de seu veado de estimação, outras características da vida pessoal da estrela faziam dela diferente do que era considerado lady like. Amigos e familiares de Audrey afirmam que a artista amava beber Scotch, contar piadas off color (controversas ou vulgares), e estava sempre com um cigarro entre os dedos. A estrela, que exibiu um corpo esbelto do início ao fim de sua vida, não acreditava em dietas (pratica que era romantizada pela sociedade da época, especialmente direcionada ao público feminino). Audrey chegou a ter o seu peso questionado em rede nacional no famoso programa de entrevistas de Barbara Walters. Mas contrariando qualquer expectativa de que a atriz carregava consigo um segredo sujo para manter a magreza, Audrey Hepburn era uma amante da cozinha italiana, e era até mesmo considerada uma “viciada em massas”. O que ela carregava dentro do coração não era o segredo da magreza mas sim uma adoração por comida autêntica, caseira, orgânica e no verdadeiro estilo farm to table (da fazenda à mesa). A artista amava plantar sua própria comida, e preferia passear pelas feiras de produtos orgânicos do que pelas vitrines de lojas haute couture. Durante o tempo que Audrey passava com o marido e os filhos na Itália, costumava plantar e cozinhar muito, o que fez com que, em 2015, seu filho Luca Dotti publicasse o livro “Audrey Mia Madre“, que em inglês ficou “Audrey at Home: Memories of my Mother’s Kitchen

Mas quando tratava-se de um photoshoot, Audrey abraçava o glamour que a moda pode trazer consigo. Posou para fotógrafos renomados, vestiu designs originais das maiores grifes, e foi capa de inúmeras revistas de moda, cultura, cinema e até arquitetura. Audrey Hepburn não desejava influenciar ninguém, mas sua cativante energia e estilo fashionista fascinavam o mundo todo, indo muito além de Hollywood. Era a combinação do luxo e da simplicidade, da cidade e da natureza, das joias mas do amor à flora e a fauna, que traziam um encanto especificamente fascinante à Audrey e a transformavam em uma It Girl. Em uma recente entrevista de seu filho mais novo, Luca Dotti, ele conta que a atriz não tinha hábitos luxuosos, e que, no tempo em que moraram em Roma (Itália), o que Audrey mais gostava de fazer era deitar-se no sofá de calças jeans para assistir televisão ou ouvir bossa nova como João Gilberto, Sérgio Mendes e Astrid Gilberto. Mas para não deixar de lado o glamour de Hollywood, Audrey e seu marido Andrea Dotti também costumavam oferecer jantares caseiros em sua residência na Itália, e entre os convidados temos nomes como a atriz Julie Andrews e a cantora Diana Ross. Outro convidado recorrente na mesa e no jardim do casal era o estilista Valentino, amigo íntimo de Audrey, e para ele, ela costumava fazer um prato especial, macarrão ao pesto de manjericão, nozes e iogurte. A atriz e bailarina, como uma verdadeira europeia, dominava línguas como francês (sua língua materna), inglês, italiano, alemão, holandês, e espanhol.

Além de It Girl, podemos dizer que Audrey foi uma das pioneiras do termo Cover Girl, já que todas as mídias físicas expostas nas bancas de jornais da década de 50 até as edições digitais de revistas atuais, trazem a estrela na capa. Seu fashion appeal ultrapassava barreiras continentais, e Audrey Hepburn era fotografada para ensaios de revistas no mundo todo, de norte à sul, e tornou-se parte fundamental para o funcionamento de revistas como Vogue, Harper’s Bazaar, Vanity Fair e até a renomada revista de fotografia, a Life. Inclusive, em um artigo da Vogue UK em 2021, foi feito um levantamento de quais seriam as peças de roupa e acessórios que ficaram marcados por Audrey Hepburn. Alguns dos escolhidos foram: calças xadrez, LBD (Little Black Dress), sapatilhas de bailarina, calças jeans e camisa branca oversized.

Quando fazia aparições em eventos ou Red Carpets, Audrey não falhava em entregar elegância, fazendo de suas raras aparições um verdadeiro fashion show. Diferente do título de antítese do feminino, que lhe foi dado nos anos 50, Audrey era sexy, elegante, e uma verdadeira cool girl. Não tinha receio de ser quem realmente era e nem carregava consigo o medo de envelhecer, já que não relacionava o processo de envelhecimento com perda de valor ou perda de beleza. Audrey continuou, até o fim de sua vida, dedicando-se a ser autêntica e vestir o que a fascinasse naquele dado momento. As roupas e o comportamento que exibiu em eventos hollywoodianos foram icônicos do início ao fim. Sem botox, fillers, closets de roupa king size ou cirurgias plásticas, Audrey Hepburn seguiu sendo uma cool girl e uma fashionista. Nas palavras de Keogh “Ela era quem ela era […] E é por isso que ela era uma lenda.”.

Além do título de It Girl e de Fashionista, da conhecida carreira no cinema e no teatro, Audrey Hepburn era uma filantropa e ativista dos direitos humanos, e dedicou-se ao trabalho voluntário na UNICEF até o fim dos seus dias. Sua carreira artística e sua enorme dedicação às causas sociais ao redor do mundo já podem ser consideradas um belíssimo legado. Mas Audrey deixa também, a sua duradoura influência na moda, na arte e nos figurinos de filmes, séries de televisão, e ensaios fotográficos, como presente para nós, sendo frequentemente referenciada por outros artistas e figuras de Hollywood.

Mesmo sem intenção, a atriz, bailarina, cantora e humanitária foi pioneira no conceito de influencer, e nós temos muito a agradecer a estrela por sua contribuição legendária para a arte e por sua positiva influência no mundo. De acordo com o filho mais novo da estrela, Luca Dotti, em entrevista para Fernanda Massarotto do jornal O Globo, em 2015:

“Certa vez, mamãe estava em Los Angeles com Connie Wald, sua amiga. Elas foram juntas para a Tiffany’s retirar um anel que mamãe havia deixado para consertar. A vendedora lhe perguntou: ‘Tem um documento, senhora?’. Ao que mamãe respondeu sorrindo, numa brincadeira: ‘Tenho sim. O meu rosto.'”

E, como complemento à história contada por Luca, deixamos as palavras da redatora Christina Danuta:

“Na Tiffany’s? Francamente.”

Rest in Power, Audrey Kathleen Hepburn-Ruston (1929-1993) a Cool Girl original.

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