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FTV FASHION TELEVISION – ROBYN BROOKS DE HIGH FIDELITY

High Fidelity pode ter sido cancelada após uma única (e cativante) temporada, mas o legado musical da série e os looks vintage de Rob viverão para sempre. Vem com a gente conferir os detalhes dessa curta porém flamejante jornada sobre heartbreaks, camisetas de banda, discos de vinil e muito mais.

Ok, para início de conversa, High Fidelity não merecia ter sido cancelada at all, muito menos após sua única temporada fazer um sucesso estrondoso entre os fãs de televisão, cinema, literatura, moda e música. A série, que é um presente para os amantes da arte, é estrelada por Zoë Kravitz, e sua narrativa é baseada no livro do autor britânico Nick Hornby, publicado em 1995. A obra literária foi um sucesso de vendas, e gerou, antes da série com Kravitz, uma obra cinematográfica clássica dos anos 2000. O filme, cujo título é o mesmo do livro e da série, é estrelado por John Cusack, Jack Black e Lisa Bonet (sim, a mãe de Zoë Kravitz na vida real), e traz como protagonista o dono de uma loja de discos de vinil. E Rob Gordon, nosso protagonista, além de colecionar discos, também coleciona relacionamentos amorosos fracassados e uma excêntrica personalidade. Após ser deixado por mais uma namorada, Rob resolve revisitar seus mais marcantes relacionamentos do passado em busca de uma resposta para o alto nível de namoros fracassados que ele empilha junto aos seus discos na sala de casa. E no reboot de 2020, Zoë Kravitz chega trazendo um diferencial: a representatividade. Sim, porque enquanto o Rob de Cusack era homem, branco e mantinha apenas relacionamentos com o sexo oposto, a Rob de Kravitz é mulher, negra e bissexual. Mas, claro, as duas produções têm muitas similaridades, já que ambos protagonistas quebram a quarta parede e falam diretamente com o espectador, revivem seus relacionamentos passados, colecionam corações partidos e são proprietários de uma loja de discos, com a única diferença sendo a localização, já que a versão cinematográfica se passa em Chicago e a versão televisiva se passa especificamente no bairro Crown Heights, no Brooklyn (New York). E a Rob de Kravitz não deixa de fazer uma homenagem fashionista ao Rob de Cusack, usando a mesma camiseta vintage da Dickies que ele exibe no filme.

Mas, além da narrativa fascinante que Robyn Brooks, ou Rob para os íntimos que conversam com ela por meio da quebra da quarta parede, nos conta ao longo dos 10 episódios da série, outros dois fatores da produção se tornaram alvos de fascínio do público: o figurino e a trilha sonora. Rob é uma mulher de personalidade forte, e apesar de exibir características modernas e ‘pra frentex‘, seu guarda-roupas é repleto de peças vintage. Camisetas antigas de banda, calças xadrez, Vans sutilmente sujos, saias plissadas, blusas evidentemente usadas e desgastadas (e até mesmo com enormes manchas de café).

Uma característica chamativa do figurino de Rob é a mistura de peças românticas (tons pastéis, cardigans de tricot, estampa florida, borboletas, saias rodadas, scrunchies segurando seu longo rabo de cavalo) com peças que remetem ao estilo grunge (coturnos, camisas e vestidos de estampa xadrez, maxi t-shirts, sneakers). Rob parece ter a casca dura por fora, com seus looks ousados, dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo e um baseado sempre em mãos, mas em seu interior, a personagem é frágil, romântica e, às vezes, até inocente. Por isso o trabalho de figurino da produção de High Fidelity em parceria com a própria Zoë Kravitz é tão relevante, ele reflete a personalidade da protagonista.

E além de observarmos os looks de Rob no seu dia-a-dia comandando a Championship Vinyl Records, nós também temos acesso aos outfits que Rob usa quando está sozinha em casa conversando conosco, e seus outfits de rolês, já que a gata também se mostra uma ótima DJ e uma assídua frequentadora de bares. Um fato sobre Rob é que ela ama uma loungewear, aparecendo diversas vezes com robes, calças de seda e cetim, camisetas larguinhas, pijamas, underwear, regatas, meias de cano alto e chinelos (sempre acompanhados de um baseado e uma taça de vinho).

Mas se engana quem pensa que por trás dos looks desleixados‘ de Rob não existe um figurino repleto de etiquetas das maiores grifes do mundo misturadas à tais peças vintage de brechó. Entre alguns exemplos, Kravitz veste uma regata City Scape Mesh da Jean Paul Gaultier tanto em um flashback quanto no presente enquanto fala ao telefone (ênfase em telefone, afinal, é um telefone com fio). E combinando com a blusa alaranjada Gautier, Rob exibe uma calça xadrez Maison Margiela que contrasta com os Vans Old Skool sujos e desgastados que ela tem nos pés. E lembram quando mencionamos o quanto a Rob ama roupas confortáveis? Um exemplo é a combinação de band t-shirt com calças verdes de cetim, que tem uma vibe grunge loungewear, e a combinação de jaqueta jeans vintage com um par de calças baby peach também de cetim, mas dessa vez dando um ar mais romântico ao look.

E os looks de rolê por NYC da Rob não ficam para trás, já que a gata mistura croppeds coloridos (o com estampa de borboleta que ela veste na foto acima nos lembra muito as peças da coleção de Outono de 1991 da grife Alaia), jaquetas de couro, trenchcoats, jaquetas puffer, botas de cano médio, muito mom jeans, cintura alta e acessórios sempre dourados complementando tudo. E outra coisa que a Rob é uma fã de carteirinha e fez com que nós fossemos também? Camisas havaianas. E aparentemente, de acordo com a figurinista da série, Sarah Laux, as camisas havaianas não foram colocadas em tantas cenas de propósito.

Em uma entrevista para a edição online da Harper’s Bazaar, Laux contou que se juntou com a própria Zoë Kravitz para criar o estilo de Rob, e as duas compartilharam muitas idas à brechós e até mesmo ao closet pessoal de Kravitz.

“Um dia eu percebi que a gente tinha uma tonelada de camisas havaianas, e foi meio que por acidente. Eu acho que o acidente meio que ocorreu porque Zoë e eu simplesmente as amamos muito”.

Sarah Laux também mencionou durante a entrevista que 90 por cento das peças que vemos Rob usar na série são, de fato, vintage, já que Zoë Kravitz é uma amante de brechós e roupas antigas. A figurinista também revelou que foi ideia de Kravitz manter o closet de roupas de Rob bem enxuto, já que ela é uma garota nova iorquina sem muito dinheiro. E o jeito desleixado cool de Rob? Também foi proposital e uma escolha da atriz, que queria que as roupas refletissem a personalidade da personagem, que não era nada certinha.

E apesar da série se passar nos dias atuais (em 2020, no caso), o estilo vintage da Rob é uma grande homenagem aos anos 90, talvez um ode à obra literária, que foi publicada em 1995? Não sabemos. Mas o que sabemos é quais foram as inspirações fashionistas da década de 90 que Laux e Kravitz escolheram dentre muitas. A figurinista contou:

“Foi muito como uma homenagem à Kurt Cobain, Drew Barrymore, Winona Ryder, e até mesmo algumas peças que Liv Tyler usa em Empire Records, ícones da cultura jovem, coisas relacionadas à música”.

Ao ser questionada sobre as suas partes preferidas do figurino de Rob, Sarah Laux relevou que sua lista inclui as botas plataforma, os casacos de couro, as camisas e camisetas vindas do closet de Kravitz, e o fato de tudo ser vintage de verdade. Mas os fãs do guarda-roupa da personagem vão ter dificuldade em encontrar peças iguais às que ela exibe na série. As botas plataforma, por exemplo, ‘não existem’ já que foram baseadas em um par de Helmut Lang que Zoë possui, e a recriação delas foi feita especialmente para a série por um sapateiro britânico (o par de botas Helmut Lang que serviu de base está esgotado em todas as lojas físicas e virtuais desde que Kravitz as divulgou). Os casacos de couro são uma representação de armadura, algo que protege a frágil Robyn Brooks do mundo e são uma ode direta ao casaco de couro preto que John Cusack usa no filme de 2000. O protótipo de uma das jaquetas de Rob, inclusive, foi feito com base em um casaco Banana Republic que uma amiga (também figurinista) de Laux possuía.

E algumas das peças que saíram direto do guarda-roupas de Zoë Kravitz herself foram o robe estampado que Rob sempre usa em casa, a camisa havaiana verde que aparece tanto nas fotos promocionais da série (surpreendentemente combinando com um shorts de poá e botas plataforma) e durante a própria série (combinada com uma regata branca, um belíssimo par de calças lilás e loafers nos pés), as inúmeras camisetas de banda como as do Wu-Tang Clan, David Bowie e Beastie Boys, e o nosso item preferido: a mini saia plissada Saint Laurent. O restante das maxi t-shirts que Rob exibe ao longo da série e outras peças foram garimpadas de brechós em NYC como Goodwill, Manhattan Vintage, Resurrection, Beacon’s Closet, Buffalo Exchange e Forty Five Ten. A figurinista Sarah Laux revelou que a icônica regata longa com o rosto de Bob Marley estampado foi garimpada em um brechó em Nashville (Tennessee).

E como a série gira em torno do cenário musical, e cada música possui um significado na vida de Rob (memórias, amor, términos, sexo, trabalho, descanso, histórias, amigos, ex-amores, atuais amores, etc), é claro que não podíamos deixar de falar sobre essa incrível curadoria musical. A trilha sonora que embala a série e a jornada de autoconhecimento que Robyn Brooks nos conta também teve muita influência de Zoë Kravitz, já que a gata é filha do rockstar Lenny Kravitz e ela mesma comanda a banda de eletropop e R&B LOLAWOLF junto com o produtor musical e baterista Jimmy Giannopoulos desde 2014. A curadoria musical da série conta com nomes como Fleetwood Mac, Prince, David Bowie, Notorious B.I.G, Outkast. Blondie, Frank Ocean, Marvin Gaye, Frank Zappa, Aretha Franklin, Grateful Dead, Beastie Boys, Jimi Hendrix, Nina Simone e muito mais. E além dos nomes de peso citados acima, a trilha sonora também conta com uma velha guarda de peso (aliás, de carga máxima) de artistas brasileiros como Os Mutantes e Serguei. É impossível numerar a quantidade de música boa que nos é dada de presente por essa série, mas é possível apreciar o quão eclética e representativa a sonoridade de High Fidelity é.

Infelizmente não somos donos da Championship Vinyl Records e não temos como colocar toda essa mistura sonora maravilhosa para tocar em uma vitrola para vocês. E apesar de não existir comparação entre o som do bom e velho vinil e o som dos serviços de streaming de música, vamos deixar aqui a playlist oficial feita pela produção de High Fidelity no Spotify.

Rest in Power, High Fidelity. E vida longa à fashionista Robyn Brooks.

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