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Hollywood Fashion Cemetery

HOLLYWOOD FASHION CEMETERY – AUDREY HEPBURN

Direto da Broadway ao cinema. Das gigantes telas às capas de revista. De Cover Girl à musa inspiradora de renomados fashion designers. Da fama excessiva de uma garota tímida à reclusão de uma ativista feroz da UNICEF. O legado fashion e artístico de Audrey Hepburn será a jornada do Hollywood Fashion Cemetery de hoje.

O objetivo da nossa caminhada à Memory Lane essa semana será explorar as famosas aparições fashionistas de Audrey mas também jogar luz nas não tão conhecidas (e definitivamente não menos icônicas) fotografias e looks da eterna Bonequinha de Luxo. E claro, nada de repetir o óbvio sobre a tão falada Audrey Hepburn, mas sim trazer as particularidades de sua biografia que não costumam ser tão exibidas por aí quanto seu vídeo cortando a própria franja em frente às câmeras como uma dama.

Quer dizer, talvez você conheça Audrey Hepburn porque, recentemente, o famoso colar de diamante amarelo Tiffany’s & Co. usado por ela em 1961 reapareceu fora dos cofres da famosa joalheira em ninguém mais do que Lady Gaga no Oscar de 2019 (quando concorria por seu trabalho em A Star is Born), Beyoncé em uma campanha da própria Tiffany’s em 2021, e Gal Gadot em seu recente filme Death on the Nile de 2022.

Ou talvez você tenha esbarrado em um quadro, pintura, fotografia ou pôster de Audrey Hepburn como sua personagem Holly Golightly com uma longa cigarreira em mãos, cabelo repleto de laque e vestido preto pendurado no quarto de algum amigo ou amiga. Ou tenha, como todos nós, amado a famosa montagem que coloca a dama Hepburn mostrando o dedo do meio em um photoshoot em que exibe uma cara emburrada.

Mas se você vive na mesma Terra redonda que nós do SXSD, com certeza você, em algum momento, já esbarrou em uma imagem de uma esbelta garota morena vestida dos pés à cabeça de Givenchy, pérolas e enormes óculos escuros observando atentamente à vitrine da joalheria Tiffany & Co. Essa não é Audrey Hepburn, mas sim sua personagem no aclamado filme de 1961, Breakfast at Tiffany’s (Bonequinha de Luxo). E a tal personagem em questão, Holly Golightly, tomando café direto de um copo de papel e devorando um croissant para viagem (contrastando essa imagem com o seu figurino glamuroso e maneirismos de uma dama) foi a responsável por colocar Audrey nos livros de História da Moda.

Porém, o distintivo de Fashion Icon que Audrey Hepburn carregava em seu peito tinha raízes muito mais profundas do que a tiara de brilhantes acompanhada da longa cigarreira e do par de luvas pretas na joalheria. O figurino de sua personagem em Breakfast at Tiffany’s oferece um catálogo enorme de looks belíssimos que vão além do LBD (Little Black Dress) desenhado por Hubert de Givenchy. O filme (baseado no livro de mesmo nome escrito pelo lendário Truman Capote) é uma verdadeira exibição do glamour dos anos 60, contrastando o luxo das roupas de grife e as brilhantes tiaras com a mediocridade do apartamento onde Holly mora, e do estilo de vida que leva.

Sim, o figurino de Breakfast at Tiffany’s é deslumbrante e causa fascínio até mesmo nos corações dilacerados dos não amantes da moda. Mas, como dito anteriormente, o legado nada modesto que Audrey Hepburn deixou para o mundo da moda vai muito além das referências da personagem de Truman Capote.

Apesar de exibir um dos rostos mais reconhecidos do mundo e de inspirar milhares (sim, milhares mesmo) de outros artistas, fashion designers, coleções e photoshoots temáticos, Audrey Hepburn é uma atriz com um curriculum menos extenso do que nos parece. A aclamada, e vencedora de estatuetas do Oscar, artista estrelou apenas 16 filmes em toda a sua carreira, além de algumas produções de teatro (onde foi descoberta) e da Broadway (já que possuía uma incrível voz quando cantava). Acontece que a fama e os excessos hollywoodianos não encantavam Audrey, que amava atuar mas nunca almejou nada além de uma feliz (e privada) vida ao lado da família, já que havia tido uma infância tumultuosa em sua motherland, a Bélgica. A estrela fazia questão de atuar no papel de mãe presente na vida de seus 2 filhos muito mais do que fazia questão de vestir-se de grife e fazer compras. Mas vocês sabiam que, ainda assim, ela era a musa de Hubert de Givenchy?

Durante sua breve carreira como atriz de cinema, Audrey estrelou aclamados filmes como Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu), Sabrina, War and Peace (Guerra e Paz), Funny Face (Cinderela em Paris), Charade (Charada), Paris When It Sizzles (Quando Paris Alucina) e My Fair Lady (Minha Querida Dama). No teatro, sua mais aclamada produção foi como a personagem título da peça Gigi. As produções aqui citadas são algumas das mais conhecidas da estrela, não só pelas excelentes opiniões dos críticos, mas também pelo figurino autenticamente atraente das décadas de ouro do cinema hollywoodiano. O wardrobe dessas produções podem até ser menos falado do que o da eterna bonequinha de luxo, mas são tão fascinantes quanto, com araras repletas da elegância dos anos 50 e 60 em Hollywood.

Quando longe das luzes, câmeras profissionais e claquetes, Audrey mantinha seu amor por moda intacto, porém de maneira muito mais minimalista. Quando fotografada em momentos pessoais, retratos em família ou eventos não profissionais seu estilo exibia menos colares de diamantes e mais camisas monocromáticas, chapéus, e maquiagem leve. Os vestidos longos dão lugar às calças, os saltos dão lugar às sapatilhas. Audrey Hepburn era uma amante da moda e é considerada uma das mais influentes Fashion Icons da história, mas o que ela não era? Consumista. De acordo com os filhos e com colegas da atriz, ela conhecia muito bem todos os designers e grifes, mas não comprava uma quantidade exorbitante de roupas e sapatos, muito menos joias. A estrela era uma fashionista consciente, que acreditava em comprar belas e duradouras peças, e apenas quando era necessário, e não como se comprar fosse um esporte. Quando estava em casa, sua combinação ideal de roupas era um par de jeans e uma camisa polo Ralph Lauren.

De acordo com a autora do livro Audrey Style, Pamela Keogh, Audrey Hepburn era a representação da antítese de Marylin Monroe (outra Fashion Icon da mesma era de ouro de Hollywood). Keogh explora o assunto mais profundamente quando explica que Audrey não exibia o mesmo tipo físico das mulheres “Va Va Voom“, com suas curvas, joias e decotes. Pelo contrário, Audrey Hepburn era uma mulher que ia na contramão da considerada ‘moda feminina’, exibindo simplicidade e roupas de linhas mais retas. A contracultura da atriz ia além, já que ela abusava do uso de roupas pretas, em uma época onde mulheres apenas se vestiam da cor quando compareciam à funerais. De acordo com Keogh, o estilo da atriz era uma combinação da moda europeia com a moda bohemian.

E como estava na direção contrária ao que era considerado sexy ou femnino, Audrey não era voluptuosa, exibia os chamados short gamine haircuts (cortes de cabelo num estilo pixie, considerado masculino na época) e estava longe de ser uma influenciadora, já que era extremamente reservada. A estrela acreditava que não deveria expor o que acontecia em sua vida longe das câmeras. De acordo com a autora Pamela KeoghAudrey era uma verdadeira estrela de cinema. Hoje existem muitos Instagrams dedicados à ela. Mas ela não era do tipo de posar para fotos ou forçar seu nome por aí”.

Audrey Hepburn não era uma figura convencional mesmo. Além de seu veado de estimação, outras características da vida pessoal da estrela faziam dela diferente do que era considerado lady like. Amigos e familiares de Audrey afirmam que a artista amava beber Scotch, contar piadas off color (controversas ou vulgares), e estava sempre com um cigarro entre os dedos. A estrela, que exibiu um corpo esbelto do início ao fim de sua vida, não acreditava em dietas (pratica que era romantizada pela sociedade da época, especialmente direcionada ao público feminino). Audrey chegou a ter o seu peso questionado em rede nacional no famoso programa de entrevistas de Barbara Walters. Mas contrariando qualquer expectativa de que a atriz carregava consigo um segredo sujo para manter a magreza, Audrey Hepburn era uma amante da cozinha italiana, e era até mesmo considerada uma “viciada em massas”. O que ela carregava dentro do coração não era o segredo da magreza mas sim uma adoração por comida autêntica, caseira, orgânica e no verdadeiro estilo farm to table (da fazenda à mesa). A artista amava plantar sua própria comida, e preferia passear pelas feiras de produtos orgânicos do que pelas vitrines de lojas haute couture. Durante o tempo que Audrey passava com o marido e os filhos na Itália, costumava plantar e cozinhar muito, o que fez com que, em 2015, seu filho Luca Dotti publicasse o livro “Audrey Mia Madre“, que em inglês ficou “Audrey at Home: Memories of my Mother’s Kitchen

Mas quando tratava-se de um photoshoot, Audrey abraçava o glamour que a moda pode trazer consigo. Posou para fotógrafos renomados, vestiu designs originais das maiores grifes, e foi capa de inúmeras revistas de moda, cultura, cinema e até arquitetura. Audrey Hepburn não desejava influenciar ninguém, mas sua cativante energia e estilo fashionista fascinavam o mundo todo, indo muito além de Hollywood. Era a combinação do luxo e da simplicidade, da cidade e da natureza, das joias mas do amor à flora e a fauna, que traziam um encanto especificamente fascinante à Audrey e a transformavam em uma It Girl. Em uma recente entrevista de seu filho mais novo, Luca Dotti, ele conta que a atriz não tinha hábitos luxuosos, e que, no tempo em que moraram em Roma (Itália), o que Audrey mais gostava de fazer era deitar-se no sofá de calças jeans para assistir televisão ou ouvir bossa nova como João Gilberto, Sérgio Mendes e Astrid Gilberto. Mas para não deixar de lado o glamour de Hollywood, Audrey e seu marido Andrea Dotti também costumavam oferecer jantares caseiros em sua residência na Itália, e entre os convidados temos nomes como a atriz Julie Andrews e a cantora Diana Ross. Outro convidado recorrente na mesa e no jardim do casal era o estilista Valentino, amigo íntimo de Audrey, e para ele, ela costumava fazer um prato especial, macarrão ao pesto de manjericão, nozes e iogurte. A atriz e bailarina, como uma verdadeira europeia, dominava línguas como francês (sua língua materna), inglês, italiano, alemão, holandês, e espanhol.

Além de It Girl, podemos dizer que Audrey foi uma das pioneiras do termo Cover Girl, já que todas as mídias físicas expostas nas bancas de jornais da década de 50 até as edições digitais de revistas atuais, trazem a estrela na capa. Seu fashion appeal ultrapassava barreiras continentais, e Audrey Hepburn era fotografada para ensaios de revistas no mundo todo, de norte à sul, e tornou-se parte fundamental para o funcionamento de revistas como Vogue, Harper’s Bazaar, Vanity Fair e até a renomada revista de fotografia, a Life. Inclusive, em um artigo da Vogue UK em 2021, foi feito um levantamento de quais seriam as peças de roupa e acessórios que ficaram marcados por Audrey Hepburn. Alguns dos escolhidos foram: calças xadrez, LBD (Little Black Dress), sapatilhas de bailarina, calças jeans e camisa branca oversized.

Quando fazia aparições em eventos ou Red Carpets, Audrey não falhava em entregar elegância, fazendo de suas raras aparições um verdadeiro fashion show. Diferente do título de antítese do feminino, que lhe foi dado nos anos 50, Audrey era sexy, elegante, e uma verdadeira cool girl. Não tinha receio de ser quem realmente era e nem carregava consigo o medo de envelhecer, já que não relacionava o processo de envelhecimento com perda de valor ou perda de beleza. Audrey continuou, até o fim de sua vida, dedicando-se a ser autêntica e vestir o que a fascinasse naquele dado momento. As roupas e o comportamento que exibiu em eventos hollywoodianos foram icônicos do início ao fim. Sem botox, fillers, closets de roupa king size ou cirurgias plásticas, Audrey Hepburn seguiu sendo uma cool girl e uma fashionista. Nas palavras de Keogh “Ela era quem ela era […] E é por isso que ela era uma lenda.”.

Além do título de It Girl e de Fashionista, da conhecida carreira no cinema e no teatro, Audrey Hepburn era uma filantropa e ativista dos direitos humanos, e dedicou-se ao trabalho voluntário na UNICEF até o fim dos seus dias. Sua carreira artística e sua enorme dedicação às causas sociais ao redor do mundo já podem ser consideradas um belíssimo legado. Mas Audrey deixa também, a sua duradoura influência na moda, na arte e nos figurinos de filmes, séries de televisão, e ensaios fotográficos, como presente para nós, sendo frequentemente referenciada por outros artistas e figuras de Hollywood.

Mesmo sem intenção, a atriz, bailarina, cantora e humanitária foi pioneira no conceito de influencer, e nós temos muito a agradecer a estrela por sua contribuição legendária para a arte e por sua positiva influência no mundo. De acordo com o filho mais novo da estrela, Luca Dotti, em entrevista para Fernanda Massarotto do jornal O Globo, em 2015:

“Certa vez, mamãe estava em Los Angeles com Connie Wald, sua amiga. Elas foram juntas para a Tiffany’s retirar um anel que mamãe havia deixado para consertar. A vendedora lhe perguntou: ‘Tem um documento, senhora?’. Ao que mamãe respondeu sorrindo, numa brincadeira: ‘Tenho sim. O meu rosto.'”

E, como complemento à história contada por Luca, deixamos as palavras da redatora Christina Danuta:

“Na Tiffany’s? Francamente.”

Rest in Power, Audrey Kathleen Hepburn-Ruston (1929-1993) a Cool Girl original.

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